Anápolis perde Bráulio Carvalho, um de seus maiores talentos musicais
Atualizado: 23 de abr.

Compositor, cantor, poeta, artista plástico e criador da banda Os Littles, Bráulio Alberto de Carvalho faleceu no dia 17 de abril de 2023, em Uberaba-MG.
Natural de Nova Ponte (MG), Bráulio Carvalho, artista multimídia, escritor e instrumentista, formado em Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Uberlândia, mudou-se para Anápolis com os pais e irmãos no final da década de 50. Filho de Fausto e Henriqueta de Carvalho e irmão de Nininha, Lúcia e Carlos Alberto de Carvalho, Bráulio dedicou-se à música desde a infância e, no início dos anos 60, formou a banda Os Littles, cover dos Beatles, com os amigos Ronaldo Corrêa (percussão e voz), Lourival Leite (guitarra base e voz), José Eugênio Menezes (bateria) e Odilon Alves Rosa (baixo e voz).
O conjunto musical animava matinés e bailes em Anápolis e região e passou por uma alteração em sua formação quando José Eugênio foi substituído por Vilmar Takeno e, pouco tempo depois, por Lourival Lemes. Em 1969, a banda gravou um disco conhecido como compacto duplo com quatro músicas: The Maze (Bráulio e Odilon) e Menina Moça, Canção para quem está só e Fontainha (Bráulio):

Odilon Rosa, Ronaldo Corrêa, Bráulio Carvalho e Lourival Lemes

Bráulio Carvalho, Ronaldo Corrêa, Lourival Leite, Odilon Rosa e Lourival Lemes
https://on.soundcloud.com/PxBC1 (MENINA MOÇA)
https://on.soundcloud.com/bhvJY (CANÇÃO PARA QUEM ESTÁ SÓ
https://on.soundcloud.com/yupsf (FONTAINHA)
https://on.soundcloud.com/Ehrhr (THE MAZE)
Bráulio achou e postou: "Vejam a relíquia que encontrei no Youtube: minha banda, Os Littles, num pequeno trecho, tocando na festa de aniversário de 60 anos de Anápolis, Goiás, em l967, no Colégio Auxilium. Da esquerda para a direita: Ronaldo Corrêa, Eu, Odilon Alves e José Eugênio. Eu contava com apenas 16 anos. O áudio é original dos Beatles".
Encerrada a etapa anapolina, Os Littles migraram para Uberlândia (MG) em 1970, com uma nova composição: Bráulio Carvalho (guitarra), Odilon Rosa (baixo), João (teclado) e Bill (bateria), passando a animar bailes e eventos nos diretórios acadêmicos e faculdades da cidade mineira. Um ano depois, Os Littles deixaram de existir.
Bráulio Carvalho, após concluir o curso de Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Uberlândia, radicou-se em Araxá (MG), onde continuou tocando, pintando, escrevendo e compondo músicas de vários estilos, entre elas Nóis não vive sem muié, que se tornou sucesso nacional na interpretação de vários artistas, entre eles, Gilberto e Gilmar.
Foi em Araxá que o ex-Little intensificou sua produção como artista multimídia acumulando gravações musicais, charges e cartoons e se apresentando em eventos, bares e casas de show. Nesse mesmo período, gravou joias raras que se eternizarão nos arquivos da memória de seus familiares, amigos e fãs de todas as idades como New York, New York e Yesterday.
Depois de se mudar com a família para Uberaba (MG), onde continuava produzindo e encantando a todos, o talentoso e virtuoso Bráulio Carvalho foi acometido por um câncer letal vindo a falecer no dia 17 de abril de 2023, uma segunda-feira. Seu corpo, a seu pedido, foi cremado e sepultado em Uberlândia (MG).
Bráulio Carvalho 4 X!
No dia de seu aniversário, 26/03, Bráulio foi lembrado por seu irmão, Carlos Alberto de Carvalho, em uma postagem intitulada Meu Palhaço:
"O Bráulio sempre foi um filhão meu.
Quando quebrou a perna, em um lance absolutamente fortuito, de azar, fiquei grudado nele no hospital, me lamentando. Foi um momento em que a gente se aproximou muito e eu morria de pena dele.
Depois ele saiu para estudar em Uber Land e a gente se afastou um pouco. Mas eu ia visitá-lo sempre.
Parece que nessa época eu abracei de vez a carreira de pai dele, inclusive indo a sua formatura com a Riquette.
Meu passeio predileto era visitá-lo em MG. Sempre ríamos muito de suas palhaçadas, no que sempre foi mestre: imitar os trejeitos de Mazzaropi, o andar descolado de Cris, o volume exagerado de suas panturrilhas ou o arrepio dos pelos do braço, realçado com o dedo apontador em movimento ascendente.
São imbatíveis suas imitações que procuram mostrar as dificuldades de Maciste ao tentar tomar uma taça de vinho. É que os músculos das "asas" impediam que as duas mãos se juntassem para segurar a taça.
Vivíamos aquele mundo dos heróis bombadões do cinema, por isso que as cenas cinematográficas sempre foram sua grande fonte de inspirações e, logo, risos da "plateia". Isso quando suas palhaçadas não extravasavam e chegavam até mesmo ao mundo dos funkeiros, em cenas absolutamente simplistas, como o uso de sandálias havaianas nas gravações. Apanhar mamão com uma geringonça própria, uma longa haste com cesto na ponta, é antológica e minha cena favorita.
.Germano Soraggi e Bráulio numa das muitas de suas aplaudidas apresentações
É até possível pensar que no imaginário de Bráulio habita uma infantilidade no seu estado mais puro, reminiscências das quais nunca conseguiu se livrar desde quando vivíamos infantilmente em Nova Ponte, às margens do Rio das Velhas.
Suas palhaçadas chegaram a visitar até mesmo o mundo de Sergio ChapeIin, cujos braços se elevavam meio a esmo para realçar uma notícia. Nem Silvio Santos escapou de suas imitações, particularmente quando repetia movimentos orais, como se estivesse apreciando o sabor de alguma guloseima.
Mas tudo na vida vem e um dia vai embora como um sopro, conquanto desejássemos "live forever": eu gostaria de ver meu "filhão" para sempre palhaço.
Mas é cruel a iluminação esmaecida das 18hs, por isso que é preciso muitas mãos queridas para estaquear a aura de nosso palhaço e mantê-la de pé. De sua plateia também. Braulio, parabéns prá você,
nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.
Anápolis (GO), 26/03/23"
New York, New York, com Bráulio Carvalho
Inúmeros amigos prestaram suas últimas homenagens ao artista Bráulio Carvalho.
Nilson Cunha:
"Caríssimos amigos, a partida de um amigo de juventude é sempre um momento triste. Mas com nossa insistência em ir acumulando janeiros e mais janeiros, isso se torna cada vez mais frequente. Hoje, com tristeza, trago a notícia do falecimento de nosso amigo de juventude Bráulio Alberto de Carvalho. Para quem não acompanhou, ele se submeteu a um procedimento cirúrgico para retirar um câncer de aparelho digestivo e evoluiu com complicações pós-operatórias. Acabo de receber a notícia e não sei de mais detalhes. Neste momento a memória trabalha e me leva para meus anos dourados de juventude, quando tive o privilégio de usufruir da amizade e do talento do Bráulio. Os Littles são para mim tão inesquecíveis quanto os Beatles. Seu talento e seu jeito irônico e debochado fincaram marcas em minha memória. Fico triste, como imagino que ficarão todos aqui do grupo, mas quero deixar uma mensagem de fé e esperança no permanente valor da vida. Ao longo dessa jornada magnífica acumulamos experiências, boas e más, e tudo se soma para que sejamos hoje melhores do éramos ontem. Bráulio teve uma existência calcada no seu talento incomparável e granjeou simpatias e admiração ao longo da trajetória. Deixou sementes que haverão de frutificar o que ele tinha de melhor. Deixou em nossos corações a certeza de que a amizade é um bem inestimável, o que de melhor conseguimos reter quando a fragilidade do corpo físico se acentua cada vez mais. De minha parte fico triste por um instante, mas ameniza o que sinto a certeza de que a vida continua sempre, em outro plano. Que possamos todos abraçar nosso querido Carlos Roberto de Carvalho e passar a ele a energia de nossa amizade, nosso amor para que possa enfrentar e superar mais essa adversidade. Que todos do grupo possam vibrar um pensamento e uma oração que possam envolver e trazer conforto ao Betão e iluminar o caminho do Bráulio em seu retorno à pátria espiritual".
Yesterday, com Bráulio Carvalho
Eduardo de Ávila: "Obrigado Bráulio Carvalho, essa imagem sempre presente nas minhas redes sociais, foi uma de suas generosas artes aos seus amigos e admiradores. Seu humor, também inigualável - como nos vídeos com o Edson José Zappulla -, farão muita falta. Enfim, caro Bráulio, autor junto com Tarcísio Cardoso de "Nóis não vive sem muié" (pouca gente sabe disso e essa música embalou nossa juventude em Araxá nos anos 70), suas obras são eternas. Obrigado pela amizade, ainda que distante. Estava nos meus planos te encontrar pra uma boa prosa. Fica adiada essa resenha. Até!"
Mikhail Skaf:
"Não tive coragem de te ver inerte, sem vida Bráulio. Até poderia ter, mas queria te ver ainda como você sempre foi em toda sua vida, tocando o violão, cantando, desenhando, fazendo todas suas criações artísticas inteligentes, críticas construtivas, etc..
Quero lembrar de você assim.
Não era a hora de você partir, de jeito nenhum! Não foi combinado!
Você se foi fora do combinado, como dizia o nosso saudoso eterno Rolando Boldrin, que também acho que foi um pouco antes do combinado.
Pois então, Bráulio, quero sempre ter você ativo na minha mente, lembrar dos tempos que convivemos juntos com toda nossa turma, desde o colegial em Anápolis, os bailes, os shows dos Littles, as músicas que compartilhamos.
O tempo da faculdade em Uberlândia, de nossa república, Silopana, durante cinco anos, as noites musicais, as brincadeiras, as broncas, as dificuldades da vida, e muito mais...
Depois da faculdade, cada um por um lado, encontrando-nos algumas vezes e, mesmo distantes, a amizade não morre. As lembranças são eternas.
E olha só como é o destino!
Estou me aposentando definitivamente do trabalho este ano, e já estava me planejando para, a partir do próximo, ano te visitar com mais frequência, ver alguns shows, suas músicas, suas pinturas, mas... Não deu tempo!
Você é destas pessoas com inteligência e sabedoria rara, que surgem a cada século. Você ainda teria muitas criações artísticas para apresentar ao mundo, e muita convivência ainda para ter com os amigos e a família.
Mas quis o destino que fosse assim e nada podemos mudar.
Que me perdoe a Regina, a Mariana e os colegas, mas não tive coragem de ir ver o grande amigo em estado inerte.
Portanto não era a hora dele partir, Senhor!
Vá em paz meu amigo, e agradeço ao destino por ter te colocado em meu caminho e ter compartilhado um pouco da sua vida.
Enquanto eu viver jamais te esquecerei. Nós encontraremos ainda algum dia... Do eterno amigo e admirador, Mikhail Skaf".
"Você é Grande, meu Amigo! Te amamos, Artista! Let it be. Já estamos com muita saudade, te Amamos! Hoje esse Artista maravilhoso de Minas Gerais e do Brasil fez sua passagem, Bráulio Carvalho, compositor, Artista plástico, chargista, humorista, pai, genro, esposo... Aquele cara que fez sucessos como ''Nóis não vive sem muié'' (que humor maravilha, meu Amigo!), e sempre tocando Beatles para gente em família. Um abraço, meu Amigo, te Amamos!"
Odilon Alves Rosa:
''Quando você se mudou para uma casa ao lado de onde moro até hoje, no centro de Anápolis, pressenti que minha vida mudaria. Ficamos amigos, estudamos juntos e foi você quem me ensinou as primeiras incursões no violão. Paciente e gentil, me indicava as notas e suas posições tornando fácil para mim fazer algo que jamais imaginei que pudesse fazer: tocar violão, começando com uma primeira e inesquecível música, The House of the Rising Sun.
Vieram os Beatles e, logo em seguida, Os Littles, quando você me pediu para trocar a guitarra pelo contra-baixo. Sem pestanejar, atendi seu pedido e caminhamos juntos por vários anos animando bailes e festas, alegres e confiantes em um futuro melhor para todos nós. Cresci e aprendi com você a me dedicar aos estudos e à música, sem jamais me esquecer da família e dos amigos. Meu pressentimento se tornou realidade e fez com que novos horizontes se abrissem em minha vida. Obrigado meu amado e inesquecível amigo Bráulio. Vá com Deus!"

Obra criada por Bráulio em 1987.