ENTREVISTA Stefani Cezak: “Desembalar menos e descascar mais é uma máxima para a vida saudável”

Master Enteroterapeuta e Fundadora do IBE - Instituto Brasileiro de
Enteroterapia. Master Aromaterapeuta pela Federação Francesa de
Aromaterapia de Saint Jean/Toulouse - França. Terapeuta Natural em Práticas Integrativas e Complementares da Saúde pelo IBRATE de Curitiba/PR - Brasil, e Administradora de Empresas pelo ISAE/FGV além de outras formações.
Stefani Cezak concedeu entrevista exclusiva à Planeta Água. CONFIRA!
O que é Enteroterapia?
É uma terapia 100% natural de alta comprovação clínico-científica e o nome vem do grego "enteros", que significa dentro + terapia que quer dizer tratamento, é a mesma raiz da palavra gastroenterologia, que é a parte da medicina que estuda o sistema digestivo, o "gastro" para o estômago e o "entero" para os intestinos.Então podemos definir a Enteroterapia como uma prática baseada em evidências dietéticas comportamentais não medicamentosas, que trata os intestinos a fim de promover sua regeneração e a simbiose intestinal e, com isso, é tratada a raiz comum de todas as doenças metabólicas crônicas e de várias das condições de saúde mais sérias atualmente.
“O nível de consciência está cada vez maior e as
pessoas querem se tratar de forma natural. O que falta são profissionais em quem elas possam confiar.”
Como e quando surgiram as primeiras experiências com a Enteroterapia?
Eu fui a primeira pessoa a experimentar a Enteroterapia no mundo, porque fui eu quem deu a luz à Enteroterapia. Por mais incrível que pareça - e até absurdo no meu ponto de vista - não existiam terapias especializadas no tratamento intestinal. Digo absurdo porque qualquer médico atualizado sabe do papel fundamental dos intestinos na saúde do corpo todo, pois trata-se de um centro nervoso, hormonal e imunológico extremamente importante. A Enteroterapia já está com quase 10 anos de desenvolvimento, porém, apenas em 2022 ela nasce, ganhando seu nome e notoriedade, pois desde 2014 eu já trabalhava com protocolos híbridos integrando três terapias naturais diferentes: a aromaterapia com a aplicação da linha francesa e original dos óleos essenciais, a trofoterapia que trata através dos alimentos e a fitoterapia com as ervas medicinais. E depois de muito estudo das evidências científicas dessas ferramentas fui construindo uma forma de tratar os intestinos em três pilares que são a desintoxicação, a desinflamação e a modulação do microbioma intestinal. Foram anos desenvolvendo e aperfeiçoando o tratamento e também construindo uma base sólida de resultados clínicos, que são os resultados de pessoas que aplicaram o tratamento e tiveram melhoras incríveis. Então, foi dessa junção da base científica com a base clínica que nasceu a Enteroterapia.
O que a levou a se dedicar a essa especialidade?
Quando eu comecei a trabalhar com as terapias naturais, logo percebi que estava apenas amenizando os sintomas dos clientes e não resolvia realmente os problemas. Lembro de um caso de uma cliente com problemas de pele que não consegui ajudar com as terapias que eu conhecia na época.
Fiquei muito frustrada e chateada, porque sabia que estava faltando muito para obter resultados reais com os clientes, mas foi essa frustração que me levou a mergulhar fundo nos estudos e, cada vez, mais fui descobrindo a incrível relação da saúde intestinal como a raiz de vários problemas de saúde que enfrentamos atualmente.
“A estratégia é tolher a opção das pessoas
através de mecanismos como medo e desinformação
para, no final, apenas vender remédios.”
A medicina está mudando?
Com certeza, pacientes e médicos já estão cansados dos mesmos atendimentos e tratamentos que não resolvem os problemas. Hoje em dia o paciente se informa mais sobre seu diagnóstico e busca cada vez mais as opções de tratamento mais modernas e preferencialmente naturais. A pandemia acelerou muito esse processo. Com isso, os profissionais da saúde sentem a necessidade de se atualizar e buscar técnicas que tratem a raiz dos problemas e não apenas amenizem sintomas e é por isso que vem crescendo a MBE (Medicina Baseada em Evidências) que é um movimento revolucionário na área da saúde, pois muitos dos tratamentos convencionais, com base na literatura, estão desatualizados e os médicos que querem se atualizar e prover o melhor aos seus pacientes, recorrem às evidências científicas mais recentes para propor os tratamentos. A Enteroterapia é fruto e resposta a esse movimento, e muitos médicos ficam aliviados ao ver que agora eles têm uma opção séria e muito bem embasada para indicar aos seus pacientes como alternativa aos fármacos intoxicadores e paliativos que são receitados como única forma de tratamento.
Qual é o valor das linhas terapêuticas naturais?
É interessante essa pergunta, pois em sociedades de alto contexto, que são os países mais antigos do mundo, as terapias naturais são as principais terapias, por exemplo, a Medicina Tradicional Chinesa, a medicina da China totalmente feita de práticas naturais e que está aí há milênios tratando bilhões de pessoas. Porém, aqui no ocidente por interesses financeiros de uma indústria que lucra com a doença, as terapias naturais foram rotuladas como alternativas, sendo que, no meu ponto de vista, primeiro você deveria se tratar de forma natural e como exceção recorrer aos fármacos sintéticos, que certamente vão intoxicar e ainda causar efeitos colaterais. Porém, a exposição aos vários tipos de toxinas que a vida moderna traz, seja na alimentação, cuidados pessoais, produtos de limpeza, utensílios de cozinha, embalagens e etc, gera uma sociedade doente que "precisa" dos fármacos para tratar sintomas que acabam amortecendo esse estilo de vida corrompido, e isso gera um ciclo vicioso de doença/fármaco, ou seja, intoxicação sobre intoxicação, mantendo o consumo contínuo de produtos intoxicadores e adoecedores.
Como tem sido a aceitação dos tratamentos naturais no Brasil?
Maravilhosa! O nível de consciência está cada vez maior e as pessoas querem se tratar de forma natural, o que falta são profissionais em quem elas possam confiar. Por isso que dentro da minha Formação em Enteroterapia, na qual ensino terapeutas naturais a tratarem os problemas do cliente na raiz, também ensino como construir autoridade nesse meio e passar confiança para seus clientes.
Os tratamentos naturais já são disponibilizados na rede pública de saúde?
Sim. Temos as Práticas Integrativas Complementares da Saúde, as PICS que são 19 modalidades liberadas para serem oferecidas pelo SUS, porém, isso está apenas no papel. A realidade é que você não encontra profissionais dessas terapias nos postos de atendimento, são muito raros os que os disponibilizam e ainda falta muito para que todos tenham acesso aos tratamentos naturais.
O que é DAMMI?
É o Protocolo de Desintoxicação Anti-inflamatória e de Modulação do Microbioma Intestinal; esse é o protocolo base da Enteroterapia, onde tudo começa. Ele tem quatro fases e se dá em quatro semanas, uma fase por semana. Normalmente o enteroterapeuta marca uma sessão por semana para orientar o que deve ser feito em cada fase e sanar as dúvidas dos clientes. Só que pra mim, pessoalmente, o DAMMI é um estilo de vida, sim é um estilo de vida desintoxicado, pois eu evito tudo o que é artificial, anti-inflamatório, pois mesmo sendo natural, minha alimentação e produtos que eu uso, intencionalmente combatem os vários tipos de inflamação que podemos desenvolver no dia a dia, e também estou em constante modulação do meu microbioma intestinal, tomando decisões conscientes em prol da simbiose intestinal, pois por mais incrível que pareça, é como se você tivesse um pet dentro de você, que você precisa alimentar e cuidar todos os dias. A nossa flora intestinal pesa mais de dois quilos, imagine só. Agora compare: um cachorrinho pinscher pesa menos que isso.
Qual é o papel do Instituto Brasileiro de Enteroterapia?
O Instituto foi criado para elevar o nível de conhecimento dos terapeutas naturais em relação à Enteroterapia. É o órgão responsável por formar e credenciar novos Enteroterapeutas, bem como para trazer respaldo, segurança e autoridade para os Enteroterapeutas e para os clientes que podem ir até o nosso site e buscar um profissional credenciado em nossa instituição.
A riqueza de sua biodiversidade posicionaria o Brasil como um país de enorme potencial para o desenvolvimento das linhas terapêuticas naturais?
Com certeza. Temos uma grande diversidade de alimentos terapêuticos à nossa disposição e com um preço acessível. Também temos uma infinidade de plantas de alto valor medicinal, porém corremos um enorme risco de perder o conhecimento ancestral dos povos indígenas sobre essas plantas e ainda ter substâncias naturais sendo patenteadas por laboratórios farmacêuticos estrangeiros. Infelizmente existe sim um lobby da indústria impedindo o acesso a essas fontes naturais de saúde, isso porque a medicina atual não reconhece uma planta como tratamento para uma doença, mas reconhece um medicamento que veio da mesma planta. A estratégia é tolher a opção das pessoas através de mecanismos como medo e desinformação para, no final, apenas vender remédios.
De que forma o respeito à natureza pode contribuir com a evolução das terapias naturais?
Quanto mais sustentáveis e respeitosos forem os processos de produção e cultivo dos alimentos e plantas terapêuticas, maior será a potência medicinal e consequentemente teremos um efeito maior do tratamento. Material vegetal extraído da natureza insustentavelmente e com práticas equivocadas, fica comprometido em sua eficácia medicinal, bem como plantas cultivadas de forma inadequada com uso de pesticidas e defensivos agrícolas, sem respeitar o solo, ou, ainda, solos contaminados por poluição, produzem plantas contaminadas e ineficientes. O fato é que se você quiser que a natureza cuide de você e lhe entregue o que ela tem de melhor, você deve respeitar e fazer as coisas certas.
Que recomendação você faz aos nossos leitores quanto às primeiras mudanças de comportamento para se viver com mais saúde?
Comece fazendo melhores escolhas. Tudo que entra pela nossa boca, inalamos pelo nariz ou entra em contato com nossa pele, pode trazer saúde ou tirar saúde de você. Então, desembalar menos e descascar mais é uma máxima para a vida saudável. Busque ingerir alimentos naturais de verdade, alimentos não inflamatórios, deixando de consumir os produtos alimentícios processados que são vendidos como comida mas não são, isso já é um grande passo para quem quer iniciar sua jornada para uma vida mais natural e saudável. Afinal, todo alimento produzido industrialmente contém conservantes - que são basicamente antibióticos - usados para que o alimento não estrague. Assim, quando os ingerimos, eles continuam a fazer o mesmo papel e acabam por devastar a nossa flora intestinal. Esse é um dos grandes fatores para um dos dois principais problemas nos intestinos que tratamos na Enteroterapia: a disbiose intestinal e suas consequências. E uma segunda indicação é aumentar o consumo de alimentos fermentados, como chucrute, kimchi, kefir, kombucha e outros fermentados de vegetais que você pode até fazer em casa, mas se for comprar, não pode ter conservantes. Fazendo assim você vai aumentar as bactérias boas na sua flora intestinal e caminhar para a simbiose. São dois passos super simples que vão gerar resultados maravilhosos.