
A Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, prevista para ocorrer em Belém do Pará em 2025, está cercada de polêmicas antes mesmo de começar.
Anunciada com entusiasmo pelo governo brasileiro como uma oportunidade de reposicionar o Brasil no debate climático internacional, a conferência já enfrenta críticas quanto à sua viabilidade, aos altos custos e à efetividade real frente à crise ambiental global.
Hotéis: preços abusivos
Uma das principais queixas vem de delegações internacionais e organizações da sociedade civil, que denunciam preços abusivos de hospedagem na capital paraense. Hotéis triplicaram suas tarifas, aproveitando a demanda excepcional causada pelo evento. Diante disso, países e entidades cogitam cancelar ou transferir eventos paralelos, reduzindo sua presença no Brasil — o que enfraqueceria a diversidade de vozes no debate climático.
Para tentar contornar o problema, uma ideia impensada surgiu nos bastidores: hospedar parte das delegações — compostas por milhares de pessoas — em navios atracados no porto de Belém. A proposta, no entanto, esbarra em um obstáculo técnico grave: a infraestrutura energética da cidade não suporta tamanha demanda elétrica. Especialistas alertam para o risco de apagões, sobrecarga na rede e impactos ambientais diretos causados pelo consumo elevado de energia e geração de resíduos em larga escala.
Além disso, o governo federal aprovou um pacote de mais de R$ 500 milhões em investimentos para preparar a cidade, incluindo obras de mobilidade, saneamento e revitalização urbana. O plano, ambicioso, visa deixar um “legado verde” para Belém. Mas com pouco mais de quatro meses até o evento, há o risco real de que parte dessas obras não seja concluída a tempo, o que pode transformar a COP30 em mais uma vitrine inacabada — a exemplo de grandes eventos anteriores no Brasil, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Sem resultados práticos
Por trás de toda essa movimentação está uma crítica mais profunda: o esvaziamento do propósito real das COPs. Já são 29 conferências realizadas desde 1995. A cada edição, compromissos são firmados, metas são traçadas e declarações enfáticas são feitas. Mas os resultados práticos continuam insuficientes. O aquecimento global avança, as emissões de gases de efeito estufa aumentam, e a transição energética global caminha a passos lentos.
A COP30, em vez de representar um divisor de águas na luta contra a crise climática, corre o risco de tornar-se mais um megaevento internacional marcado por improviso, desperdício de recursos públicos e promessas vazias — tudo isso em um dos estados mais afetados pelo desmatamento da Amazônia e, para piorar, o goveno ainda se mostra disposto a explorar petróleo na foz do rio Amazonas.
Enquanto o planeta aquece e a ciência alerta para a urgência de ações concretas, o mundo observa Belém com expectativa — e ceticismo.