
Pesquisadores brasileiros, liderados pela UFRJ, desenvolveram um medicamento inovador usando laminina, proteína da placenta, que recupera mobilidade em tetraplégicos
A boa nova, divulgada em 9 de setembro, revela que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderados pela professora Tatiana Coelho de Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ), anunciaram avanços significativos em um medicamento experimental chamado polilaminina.
Esse fármaco é derivado da laminina, uma proteína naturalmente presente na placenta humana e no sistema nervoso, e tem mostrado potencial para regenerar tecidos da medula espinhal, ajudando a recuperar mobilidade em pacientes com lesões que causam paraplegia (paralisia dos membros inferiores) ou tetraplegia (paralisia dos membros superiores e inferiores).
Como o medicamento funciona
A pesquisa começou há mais de 25 anos (iniciada em 1999 ou 2000), com foco na laminina, uma proteína “primitiva” que forma uma espécie de “malha” no sistema nervoso durante o desenvolvimento embrionário. Ela ajuda os neurônios a se conectarem e a transmitirem impulsos elétricos.
Após lesões na medula espinhal (comuns em acidentes de carro, quedas, afogamentos ou traumas por arma de fogo), essa conexão é rompida, levando à perda de movimentos. A polilaminina é uma versão sintética e repolimerizada da laminina, extraída de fragmentos de placenta doados por mulheres saudáveis (após partos normais, com acompanhamento pré-natal).
Mecanismo: Quando aplicada diretamente na lesão da medula (via cirurgia), a polilaminina “imita a natureza”, estimulando os neurônios maduros a crescerem novos caminhos ao redor da área danificada. Isso restaura a comunicação entre o cérebro e o corpo. Em testes com ratos, os efeitos foram visíveis em 24 horas; em cães com lesões severas, houve recuperação total da marcha.
Parcerias: O desenvolvimento envolveu a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), neurocirurgiões, fisioterapeutas e, desde 2018, o laboratório farmacêutico Cristália (que investiu cerca de R$ 28 milhões e já iniciou produção em escala na planta de biotecnologia em Itapira-SP). O Cristália produz o medicamento a partir de placentas doadas, garantindo rastreabilidade.
Resultados dos testes até agora
Os estudos iniciais foram aprovados por comitês de ética e focaram em lesões recentes (até 3 dias após o trauma) e crônicas (anos após). Até o momento, cerca de 8-10 pacientes humanos participaram de testes experimentais em hospitais do Rio de Janeiro. Aqui vai um resumo dos casos emblemáticos:
Paciente Idade/Ano da Lesão/Causa/Tempo até Tratamento/Resultado
Bruno Drummond de Freitas, 31 anos (2025, lesão recente) acidente de carro 24 horas. Recuperação completa dos movimentos; caminha normalmente e recuperou quase todo o movimento dos braços em 1 ano.
Hawanna Cruz Ribeiro (atleta paralímpica de rugby) 27 anos (2017) Queda de 10m (sonambulismo) 3 anos. Recuperou 60-70% do controle do tronco, sensibilidade na bexiga e movimentos parciais; saiu do nível A (sem movimento) para C (força parcial).
Paciente anônimo (23 anos) 23 anos (lesão recente) Acidente não especificado Recente Evitou tetraplegia total; recuperou todos os movimentos.
Guilherme (exemplo genérico de estudo) Não especificado Trauma medular Crônica Recuperou mobilidade nos braços, mãos e abdômen.
Silvânia (exemplo genérico de estudo) Não especificado Trauma medular Crônica Consegue elevar as pernas e pedalar.
Eficácia geral: Em humanos, 6 de 8 pacientes melhoraram de nível A para C na escala ASIA (American Spinal Injury Association), com ganhos de 30% a 100% na mobilidade, dependendo da gravidade e tempo da lesão. Lesões recentes respondem melhor (até 100% de recuperação), mas lesões crônicas também mostram benefícios parciais. Em animais, resultados foram consistentes e rápidos.
Segurança: Nenhum efeito colateral grave foi relatado até agora. Os testes confirmam que a polilaminina é biocompatível e não causa rejeição.
Atualizações recentes (até 14 de setembro de 2025)
Anúncio oficial: Em 9 de setembro, o Cristália apresentou o medicamento em São Paulo, com coletiva de imprensa. A UFRJ e a FAPERJ destacaram o potencial “revolucionário”, mas enfatizaram que é experimental.
Produção: Já em fase de fabricação comercial pelo Cristália, usando placentas doadas. Parcerias com o Hospital das Clínicas da USP (para cirurgias) e AACD (reabilitação) estão em andamento para fases futuras.
Patente e impacto global: O processo de patente foi iniciado (pode levar anos). Especialistas especulam que isso poderia render um Nobel de Medicina ao Brasil, pela inovação em regeneração neural sem células-tronco (mais acessível e segura).
Discussões no X (antigo Twitter): Há buzz positivo, com posts celebrando a UFRJ e a pesquisa pública. Por exemplo, um usuário destacou: “Viva a UFRJ! Via a faculdade pública e a pesquisa acadêmica.” Outro compartilhou: “Pesquisadores da UFRJ descobriram que a laminina… pode regenerar neurônios e ajudar pessoas com tetraplegia.”
Dúvidas comuns esclarecidas
É aprovado para uso geral? Não ainda. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não recebeu pedido formal para fase 1 de testes clínicos amplos (até 12 de setembro). Os testes atuais foram autorizados como estudos acadêmicos éticos, mas precisam de aprovação regulatória para ensaios maiores e comercialização. Espera-se liberação em meses, mas pode demorar 1-2 anos para validação completa.
Funciona para todos os casos? Não necessariamente. Resultados variam: lesões recentes (horas/dias) têm mais chance de recuperação total; lesões antigas (anos) melhoram parcialmente (ex.: controle de tronco, mas não pernas totais). Depende da gravidade, localização da lesão e reabilitação pós-tratamento. Não é uma “cura milagrosa”, mas uma avanço promissor.
Diferenças de paraplegia e tetraplegia: Paraplegia afeta pernas (lesão lombar); tetraplegia afeta braços, tronco e pernas (lesão cervical, acima do pescoço). O medicamento visa ambos, restaurando conexões neurais.
Custo e acesso? Ainda indefinido, mas o Cristália visa produção nacional para acessibilidade. Como é derivado de placenta (material “descartado”), pode ser mais barato que terapias com células-tronco.
Riscos ou limitações? Testes iniciais não mostram efeitos colaterais, mas estudos maiores são necessários para confirmar. Dois pacientes nos testes iniciais faleceram por complicações do trauma original, não pelo medicamento. A divulgação foi “postergada” para proteger a patente.
Por que agora? Após validações independentes em outros laboratórios, a equipe decidiu divulgar para acelerar aprovações.