
Artigo por Daniel Araújo Alves – Historiador e empresário
Ao completar 118 anos de elevação à categoria de cidade, Anápolis é mais do que uma urbe: é uma narrativa viva de coragem, trabalho e contradições. Nascida do sonho e da visão de pioneiros como Dona Ana das Dores e Gomes de Souza Ramos, que idealizaram e fundaram a cidade com base na fé, no esforço coletivo e no potencial de um sertão promissor, Anápolis foi se tornando, ao longo do século XX, um polo de desenvolvimento econômico, cultural e político em Goiás.
Figuras como Zeca Batista, com sua presença marcante na política estadual, ou João Luiz de Oliveira, símbolo de força e inteligência em tempos de adversidade, ajudaram a moldar a identidade anapolina. A luta e a firmeza de mulheres como Francisca Miguel, sempre à frente das causas sociais e comunitárias, são exemplos de como a história da cidade também foi escrita por mãos femininas, muitas vezes
silenciadas.
Já o médico e político Henrique Santillo levou o nome de Anápolis aos espaços mais altos da política goiana e brasileira, sem jamais romper os vínculos com a cidade que o formou.
Mas não foram apenas os nomes conhecidos que construíram Anápolis. A cidade nasceu e cresceu graças ao trabalho de homens e mulheres anônimos — lavradores,operários, professoras, pequenos comerciantes, agentes culturais — que deixaram marcas profundas, ainda que invisíveis, no solo urbano e na alma coletiva.
No entanto, se o passado nos orgulha, o presente impõe reflexões duras. A outrora chamada capital econômica de Goiás hoje parece esquecida por muitos daqueles que deveriam defendê-la.
A classe política, muitas vezes indiferente às reais necessidades da população, e uma elite dirigente desconectada da cidade que a sustenta têm contribuído para o abandono progressivo de Anápolis nos últimos anos.
Falta planejamento, ousadia e, sobretudo, compromisso com o bem comum. Falta um projeto efetivo de cidade que perpasse gestões e gerações — e com a maior brevidade possível.
A infraestrutura se degradou, a juventude carece de perspectivas e os desafios urbanos se acumulam. É como se a cidade estivesse sendo empurrada à margem, ofuscada pelo brilho de outras que souberam se reinventar.
Celebrar os 118 anos de Anápolis, portanto, é também um ato de cobrança. É hora de resgatar o espírito empreendedor e altivo que marcou nossas origens. É preciso que a população, os agentes sociais e os verdadeiros líderes — com ou sem cargo — levantem-se em defesa da cidade, de sua história, de sua gente.
Que os próximos anos não sejam apenas uma contagem no calendário, mas passos concretos rumo a uma Anápolis mais justa, mais forte, mais nossa.
Anápolis, 31 de julho de 2025.
118° ano da elevação da Vila de Sant’Ana das Antas à categoria de cidade