
O título deste artigo é o nome do livro best seller nacional do momento que mostra a vida dos endinheirados brasileiros, com seu negativismo de riqueza, hábitos, modos de viver e de se pertencer; consumo, status e distinção social.
Miguel Alcoforado, autor do livro denominado “O Antropólogo do Luxo”, mostra que coisa de rico não é, necessariamente, gastar mais, mas dominar códigos invisíveis, como tempo, discrição, repertório cultural, escolhas conscientes e a capacidade de não ostentar, sendo pontos fundamentais do livro: riqueza simbólica é maior que riqueza financeira; o luxo verdadeiro é silencioso e pouco visível; ostentação costuma revelar insegurança social.
Por que me interessei pelo livro? Porque ele importa para o Brasil. Sim, em um país desigual e altamente performático, o livro ajuda a entender a lógica da ostentação e a confusão entre ter, parecer e ser. Sim, ainda cultivamos uma idéia simplificada e equivocada de riqueza de que quanto mais visível, mais valiosa. Carros grandes e novos, marcas estampadas, festas exuberantes e redes sociais ruidosas passaram a funcionar como certificados públicos de sucesso.
O livro desmonta esse imaginário com precisão antropológica. O autor nos provoca ao afirmar que riqueza não é sobre ter, mas saber escolher, saber esperar, saber recusar. Ponto!
A grande ironia é que, quanto mais se exibe o consumo, mais se revela a insegurança social. Para o autor, luxo invisível é morar bem sem ostentar, vestir-se com simplicidade, escolher qualidade em vez de quantidade, priorizar experiências em vez de objetos e poder dizer não ao excesso. Talvez o maior ensinamento do livro seja que riqueza não é o que se mostra mas o que é sustentável.
Porque, no fim das contas, o dinheiro compra muita coisa. Mas não compra repertório, tempo, elegância, nem pertencimento. E isso, sim, é coisa de rico.
A obra parte de uma constatação simples e incômoda: riqueza não se mede apenas pelo dinheiro, mas pelo domínio de códigos invisíveis.
Tempo, silêncio, escolhas conscientes e a capacidade de não ostentar dizem muito mais sobre posição social do que qualquer logotipo. O luxo autêntico é quase sempre invisível. Está na simplicidade calculada, na qualidade em vez da quantidade, na recusa ao consumo compulsivo. Está no direito de dizer “não”, de não seguir tendências, de não precisar provar nada a ninguém.
Sim, o livro também não é um ataque à riqueza, mas um convite à maturidade social. O que está em jogo não é o dinheiro, mas o significado que damos a ele. E, cá prá nós, em um país que ainda luta para reduzir desigualdades básicas, a ostentação deixa de ser apenas estética e passa a ser sintoma.
Sim, nosso país não é apenas um país desigual. É um país que naturalizou a desigualdade e a transformou em espetáculo.
Em Coisa de Rico, o autor oferece uma chave essencial para compreender esse cenário. Por isso, ao desmontar o mito da riqueza como excesso visível, o autor revela algo mais profundo: riqueza é poder simbólico. É controlar o próprio tempo, impor silêncio, escolher quando aparecer e, principalmente, quando desaparecer. Esses privilégios não são acessíveis a todos. São “coisas de rico”. Sim, vale muito a pena ler o livro de apenas 240 páginas e se deliciar (será?) com as COISAS DE RICOS.




