
Presidente interino da Síria anuncia cessar-fogo imediato em Sueida
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, anunciou neste sábado (19) um cessar-fogo imediato na cidade de Sueida, no sul do país. A região vinha sendo palco de intensos combates entre drusos e beduínos, conflito que se agravou após os ataques de Israel — inclusive contra a capital, Damasco.
Quem são drusos e beduínos
🔎 Os drusos formam uma minoria religiosa no Oriente Médio. Suas crenças derivam do islamismo xiita ismaelita. Vivem, principalmente, na Síria, Jordânia, Israel e Líbano.
Por outro lado, os beduínos são nômades árabes que historicamente habitam regiões desérticas do Oriente Médio e do Norte da África. Sua cultura gira em torno da vida tribal e da mobilidade.
Acordo mediado pelos EUA e novos confrontos
Na sexta-feira (18), com mediação dos Estados Unidos, representantes da Síria e de Israel chegaram a um acordo para suspender os confrontos. No entanto, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), os embates já haviam causado mais de 700 mortes.
Apesar do pacto, os confrontos continuaram neste sábado. Isso ocorreu após a chegada de combatentes sunitas que se uniram às tribos beduínas contra os drusos. Enquanto isso, o governo sírio enviou uma “força especial” à região para tentar restabelecer a ordem.
Em pronunciamento oficial, Al-Sharaa declarou que o Estado está “comprometido em proteger todas as minorias”, condenando os “crimes cometidos em Sueida”.
Além disso, o enviado especial dos EUA, Tom Barrack, foi quem anunciou o acordo entre o premiê israelense Benjamin Netanyahu e o presidente interino sírio.
Retirada de tropas e acusações
Desde domingo (13), os confrontos em Sueida e arredores deixaram centenas de mortos. Como resposta aos ataques de Israel, o governo sírio retirou suas tropas da região na sexta-feira (18).
Israel, por sua vez, justificou os bombardeios a Damasco e à província meridional afirmando que desejava defender os drusos, também presentes em seu território e nas Colinas de Golã.
Apesar da retirada, grupos drusos e testemunhas acusaram o governo sírio de apoiar os beduínos e executar civis em Sueida.
Na região de Walgha, por exemplo, o líder tribal Anas al-Enad afirmou que veio com combatentes da região central de Hama em resposta aos pedidos de ajuda dos beduínos.
Consequentemente, diversas áreas da cidade, agora sob controle tribal e beduíno, foram incendiadas. Um correspondente da AFP relatou casas, lojas e carros em chamas.
Síria tenta evitar guerra com Israel
Segundo Al-Sharaa, a retirada das tropas teve o objetivo de evitar uma “guerra aberta” com Israel. O país liderado por Netanyahu havia intensificado os bombardeios alegando proteger os drusos sírios, inclusive os que vivem nas Colinas de Golã, território sírio ocupado por Israel desde 1967.
Apesar disso, o governo sírio acusou os drusos de quebrarem o cessar-fogo, agravando ainda mais a instabilidade. O episódio levanta dúvidas sobre o compromisso do novo governo com a proteção das minorias.
Vale lembrar que, há alguns meses, uma matança de alauítas já havia colocado esse compromisso em xeque.
Crise humanitária se agrava
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) expressou preocupação com a rápida deterioração da situação humanitária em Sueida. “As pessoas estão sem nada”, afirmou Stephan Sakalian, chefe da delegação do CICV na Síria.
Além disso, o médico Omar Obeid relatou que o único hospital funcional na região recebeu mais de 400 corpos desde a manhã de segunda-feira (14).
Atualmente, a cidade enfrenta escassez de água, energia elétrica e comunicação. “A situação é catastrófica. Não resta nem fórmula para bebês”, declarou Rayan Maaruf, editor-chefe do site Suwayda 24.
ONU exige apuração dos crimes
Na sexta-feira, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, liderado por Volker Türk, pediu uma investigação imediata sobre a escalada da violência na região.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 80 mil pessoas já foram deslocadas.
Antes da guerra civil de 2011, a comunidade drusa da Síria era composta por cerca de 700 mil pessoas, grande parte delas vivendo em Sueida.