
Crise logística e falhas na organização colocam em risco a credibilidade do evento ambiental mais importante do mundo. Ex-presidente dos EUA é vetado por postura negacionista.
A Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP30, prevista para ocorrer em Belém do Pará em 2025, está sendo duramente impactada por uma sequência de problemas que vão muito além do clima. O que era para ser uma celebração do esforço global pelo meio ambiente tornou-se alvo de críticas internacionais, esvaziamento de delegações e tensão diplomática.
O principal motivo de descontentamento é o aumento exorbitante nos preços de hospedagens, alimentação e serviços básicos na capital paraense. Diárias de hotéis que costumavam custar entre R$ 300 e R$ 500 estão sendo anunciadas por mais de R$ 2.000, o que levou diversas delegações internacionais — especialmente de países do Sul Global — a cancelar ou reduzir drasticamente suas comitivas.
Organizações não governamentais, ativistas e até representantes da ONU denunciaram o que chamaram de “oportunismo predatório” por parte de empresários locais, além da falta de uma política pública eficiente para garantir estadia digna e acessível aos participantes. A prefeitura de Belém e o governo do Pará afirmam que estão buscando soluções emergenciais, como acordos com navios de cruzeiro que seriam atracados no porto para servir de alojamento alternativo. A proposta, no entanto, gerou mais controvérsia: a infraestrutura elétrica da cidade não comporta a demanda adicional, e especialistas alertam para riscos ambientais e logísticos.

Áustria: presidente ausente
A Áustria confirmou que o presidente Alexander Van der Bellen não participará da COP30. A justificativa oficial foi o alto custo da hospedagem em Belém, cidade-sede da conferência climática marcada para novembro. A decisão foi anunciada pelo governo austríaco e sinaliza o impacto real da crise de infraestrutura do evento. Outros países também cogitam medidas semelhantes. A Holanda, que costuma enviar até 90 representantes, avalia cortar pela metade o tamanho da sua delegação. Já a Polônia informou que ainda não conseguiu garantir acomodação e pode limitar sua participação ao mínimo ou até desistir da conferência. A escalada nos preços de hotéis e aluguéis em Belém se tornou um dos principais entraves para a realização da COP30. Delegações diplomáticas, ONGs, representantes indígenas e membros da sociedade civil relatam dificuldades para encontrar hospedagem a preços razoáveis, mesmo com a plataforma oficial criada pelo governo brasileiro. A ausência de chefes de Estado e a redução de delegações levantam preocupações sobre a representatividade do evento. Países em desenvolvimento, que enfrentam limitações orçamentárias, são os mais afetados. Entidades internacionais alertam que a exclusão de vozes diversas compromete o alcance e a legitimidade dos acordos
Persona non grata
Como se não bastasse o caos logístico, a COP30 ganhou novos contornos de tensão diplomática com a exclusão informal de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, declarado persona non grata por diversas lideranças e entidades participantes.
Trump, conhecido por suas posturas negacionistas quanto à crise climática, já havia retirado os EUA do Acordo de Paris durante seu mandato. Mesmo fora do poder, seus discursos ainda inflamam setores contrários à agenda ambiental global. A organização da COP30 não emitiu comunicado oficial, mas nos bastidores, diplomatas confirmam que Trump seria “mal recebido” no evento. Vários países ameaçaram boicotar qualquer sessão em que ele estivesse presente.
A decisão ocorre após declarações recentes do ex-presidente em que classificou a COP como “festa de alarmistas” e “teatro globalista”, gerando forte repúdio de cientistas, ambientalistas e líderes políticos.
Decepção e incerteza
O Brasil, que almejava fazer da COP30 um marco histórico para o protagonismo climático latino-americano, agora vê o evento ameaçado por sua própria incapacidade de organização e pela escalada de conflitos simbólicos.
“Belém tem um simbolismo riquíssimo, por estar na Amazônia, mas o simbolismo não sustenta uma conferência desse porte. Era preciso planejamento, investimento em infraestrutura e controle de preços. Nenhuma dessas coisas foi feita a tempo”, critica a pesquisadora Ana Clara Tavares, especialista em governança ambiental.
A expectativa é de que o número de participantes presenciais seja o menor dos últimos dez anos. Alguns países já articulam a possibilidade de encontros paralelos ou híbridos em outras capitais, como Bogotá, Lisboa e Genebra.
Com o esvaziamento progressivo, paira no ar uma pergunta desconfortável: a COP30 será lembrada como um divisor de águas na luta contra as mudanças climáticas — ou como um fiasco anunciado?