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Indústria brasileira: Menor produção em mais de uma década

A atual crise reforça o processo de desindustrialização no Brasil

A indústria brasileira enfrenta um de seus piores momentos em mais de dez anos, com a produção em agosto de 2025 registrando o menor desempenho para o mês desde 2015, segundo a Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O índice de evolução da produção caiu para 47,2 pontos, abaixo da linha de 50 pontos que separa crescimento de retração, sinalizando um cenário de forte desaceleração em um período historicamente favorável à expansão.

Queda generalizada nos indicadores

Os números da CNI revelam um quadro preocupante. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou de 71% em julho para 70% em agosto, o menor patamar para o mês em uma década, contra 72% em agosto de 2024. O índice de horas trabalhadas também despencou para 48,4 pontos, indicando redução no emprego e interrompendo uma sequência de altas desde 2020, com exceção de 2023. Além disso, o faturamento e as compras de insumos acompanharam a retração, refletindo a fraqueza da demanda interna.

“Estamos vendo um aprofundamento do cenário adverso que a indústria atravessa desde o início de 2025”, afirmou Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.

Ele aponta como causas principais a demanda interna insuficiente, custos elevados e a concorrência externa desleal, que têm pressionado o setor.

Contexto de crise prolongada

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e análises do Trading Economics reforçam a gravidade da situação. Até junho de 2025, a produção industrial acumulava queda de 1,3% em relação ao mesmo período de 2024. Em fevereiro, o setor registrou estabilidade (-0,1%), completando cinco meses sem crescimento – o maior período de estagnação desde 2015.
Em contraste, 2024 havia sido um ano de recuperação, com crescimento de 3,1% na produção industrial, o terceiro melhor desempenho em 15 anos, impulsionado por aumento no emprego e na renda. Contudo, os últimos três meses daquele ano já indicavam desaceleração, com recuo acumulado de 1,2%.

Setores em dificuldade

A crise não é uniforme. Setores como farmoquímicos (-8,5% em abril), derivados de petróleo (-2,5%) e químicos (-2,1% em março) registraram quedas significativas. Por outro lado, indústrias extrativas, como petróleo e minério, e o setor de bebidas apresentaram resultados positivos, mas insuficientes para reverter o cenário geral.

Desindustrialização e impactos econômicos

A atual crise reforça o processo de desindustrialização no Brasil. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a produção industrial está 15,6% abaixo do pico registrado em 2011.

A participação da indústria no PIB, que já foi de 27,4% em 2010, hoje gira em torno de 20%. Essa retração prolongada, apelidada de “década perdida” pelo Iedi, já custou cerca de 800 mil vagas no setor na última década.

A desaceleração ameaça ampliar o desemprego e frear o crescimento do PIB, que em 2024 avançou 3,5%. Para 2025, a CNI projeta um crescimento tímido de 2,1% para o PIB industrial, impactado pela menor demanda e pela dependência de crédito em setores como construção e bens de consumo.

Perspectivas e soluções

Diante do cenário, a CNI defende medidas urgentes, como políticas de defesa comercial para combater a concorrência externa e estímulos à demanda interna.

“Sem ações concretas, a indústria continuará enfrentando dificuldades para retomar o crescimento”, alerta Azevedo.

Fonte: CNI, IBGE, Trading Economics, Iedi

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