
A indústria brasileira enfrenta um de seus piores momentos em mais de dez anos, com a produção em agosto de 2025 registrando o menor desempenho para o mês desde 2015, segundo a Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Queda generalizada nos indicadores
Os números da CNI revelam um quadro preocupante. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou de 71% em julho para 70% em agosto, o menor patamar para o mês em uma década, contra 72% em agosto de 2024. O índice de horas trabalhadas também despencou para 48,4 pontos, indicando redução no emprego e interrompendo uma sequência de altas desde 2020, com exceção de 2023. Além disso, o faturamento e as compras de insumos acompanharam a retração, refletindo a fraqueza da demanda interna.
“Estamos vendo um aprofundamento do cenário adverso que a indústria atravessa desde o início de 2025”, afirmou Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.
Ele aponta como causas principais a demanda interna insuficiente, custos elevados e a concorrência externa desleal, que têm pressionado o setor.
Contexto de crise prolongada
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e análises do Trading Economics reforçam a gravidade da situação. Até junho de 2025, a produção industrial acumulava queda de 1,3% em relação ao mesmo período de 2024. Em fevereiro, o setor registrou estabilidade (-0,1%), completando cinco meses sem crescimento – o maior período de estagnação desde 2015.
Em contraste, 2024 havia sido um ano de recuperação, com crescimento de 3,1% na produção industrial, o terceiro melhor desempenho em 15 anos, impulsionado por aumento no emprego e na renda. Contudo, os últimos três meses daquele ano já indicavam desaceleração, com recuo acumulado de 1,2%.
Setores em dificuldade
A crise não é uniforme. Setores como farmoquímicos (-8,5% em abril), derivados de petróleo (-2,5%) e químicos (-2,1% em março) registraram quedas significativas. Por outro lado, indústrias extrativas, como petróleo e minério, e o setor de bebidas apresentaram resultados positivos, mas insuficientes para reverter o cenário geral.
Desindustrialização e impactos econômicos
A participação da indústria no PIB, que já foi de 27,4% em 2010, hoje gira em torno de 20%. Essa retração prolongada, apelidada de “década perdida” pelo Iedi, já custou cerca de 800 mil vagas no setor na última década.
A desaceleração ameaça ampliar o desemprego e frear o crescimento do PIB, que em 2024 avançou 3,5%. Para 2025, a CNI projeta um crescimento tímido de 2,1% para o PIB industrial, impactado pela menor demanda e pela dependência de crédito em setores como construção e bens de consumo.
Perspectivas e soluções
Diante do cenário, a CNI defende medidas urgentes, como políticas de defesa comercial para combater a concorrência externa e estímulos à demanda interna.
“Sem ações concretas, a indústria continuará enfrentando dificuldades para retomar o crescimento”, alerta Azevedo.
Fonte: CNI, IBGE, Trading Economics, Iedi