Os candidatos à Vice-Presidência dos Estados Unidos se encontram nesta terça-feira (1º) em um debate promovido pela emissora “CBS News”. J.D. Vance é o candidato do Partido Republicano e integra a chapa de Donald Trump. Já o democrata Tim Walz faz parte da chapa de Kamala Harris.
A imprensa norte-americana vem classificando o encontro como um dos mais importantes da história recente, mesmo se tratando de candidatos a vice. Isso porque:
- A eleição passa por um cenário de indefinição e polarização. Qualquer mudança no eleitorado dos estados-chave pode fazer a diferença no resultado.
- Donald Trump e Kamala Harris só se enfrentaram am um debate, o que pode fazer com que o encontro dos vices tenha mais relevância.
Atualmente, J.D. Vance é senador pelo estado de Ohio. Ele tem 39 anos e ficou conhecido pela autobiografia “Hillbilly Elegy”, que virou um best-seller. O livro também deu origem ao filme “Era uma vez um sonho”, de 2020.
Já Tim Walz é o governador do estado de Minnesota. Ele tem 60 anos e já foi membro da Guarda Nacional do Exército dos EUA, além de treinador de futebol americano. Walz tem forte apelo entre o eleitorado rural e é visto como bem-humorado.
Historicamente, os candidatos a vice surgem como figuras de ataque a opositores, enquanto o cabeça da chapa foca no aspecto mais político da campanha. No entanto, essa postura acabou sendo bagunçada por Trump, que tem o costume de tomar frente aos ataques.
O debate desta terça-feira também acontece em um contexto de polêmica envolvendo J.D. Vance. Em setembro, o republicano ajudou a espalhar uma história falsa de que imigrantes haitianos estavam roubando e comendo animais domésticos de uma cidade de Ohio.
A informação acabou sendo citada por Donald Trump no debate presidencial contra Kamala Harris. O republicano foi desmentido ao vivo. Autoridades disseram que não existem relatos do tipo.
Como será o debate
De acordo com a Associated Press (AP), o debate deve focar nos seguintes pontos:
- Defesa dos ‘chefes’
Vance e Walz irão a campo para defender seus parceiros na chapa. A visão dos eleitores sobre os dois pode influenciar em como a mensagem será entregue no debate.
Uma pesquisa da AP feita em parceria com a Universidade de Chicago aponta que Walz é mais bem avaliado do que Vance pelo eleitorado.
Enquanto o democrata tem visão favorável por cerca de 4 a cada 10 eleitores, apenas um quarto dos entrevistados tinha uma opinião positiva sobre o republicano.
O senador Tim Kaine, que concorreu como vice na chapa com Hillary Clinton em 2016, disse que os candidatos precisam focar na defesa de quem concorre à Presidência.
- Aborto
Os direitos relacionados ao aborto são um ponto sensível na campanha eleitoral. Os democratas defendem uma lei nacional para garantir o direito ao aborto. Já os republicanos defendem proibições.
O apoio ao acesso ao aborto aumentou nos Estados Unidos desde 2022, quando a Suprema Corte revogou o direito constitucional de uma mulher interromper a gravidez. Isso colocou os republicanos em uma situação delicada.
Walz deve seguir o discurso de Kamala no debate e defender o direito como uma “liberdade” relacionada aos cuidados com a saúde.
Já Vance tentará levar uma mensagem mais consistente. Em agosto, ele chegou a dizer que Trump vetaria uma proibição nacional se ela fosse aprovada no Congresso. Por outro lado, o ex-presidente disse que não discutiu isso com o candidato a vice.
- Economia
Vance costuma ser mais claro do que Trump em propostas para ajudar os trabalhadores e impulsionar a indústria dos Estados Unidos. Além disso, ele costuma atacar a gestão de Joe Biden sobre os números da inflação no país.
A economia pode ser o momento em que Vance terá a oportunidade de colocar Walz na defensiva. Isso porque o republicano deve tentar colar o democrata ao governo Biden.
Os democratas tendem a ressaltar dados positivos da atual gestão na economia, como o baixo índice de desemprego e aumento dos salários. O argumento usado pela campanha de Kamala é que Biden herdou números muito ruins de Donald Trump.
Além disso, ambas as campanhas têm propostas econômicas parecidas, incluindo cortes de impostos e subsídios para certos setores.
Papel do vice-presidente
O vice-presidente dos Estados Unidos também ocupa o cargo de presidente do Senado. Com isso, ele terá o poder de desempatar votações na Casa, o que pode ser decisivo em pautas apoiadas pelo governo.
O ocupante do cargo também preside, de forma cerimonial, a certificação dos resultados eleitorais no Congresso.
Mas o principal trabalho do vice-presidente é estar pronto para assumir a Presidência caso algo aconteça com o presidente em exercício.
Ao longo da história, nove vice-presidentes eleitos se tornaram presidentes após a morte ou a saída do governante — o último foi Gerald Ford, que se tornou presidente quando Richard Nixon renunciou em 1974.
O historiador de vice-presidência Joel K. Goldstein afirmou que duas tentativas recentes de assassinato contra Trump aumentam “a relevância da sucessão.”
Por outro lado, Goldstein acrescentou que muitos eleitores veem os candidatos a vice como apêndices dos candidatos que os escolheram, e não necessariamente como potenciais futuros presidentes.