
O Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (IAJA), presidido por Anne Moura, secretária nacional de Mulheres do PT, está no centro de um escândalo envolvendo o desvio de cerca de R$ 1,9 milhão em recursos públicos.
A entidade, sediada em Manaus, é acusada de usar verbas federais destinadas a projetos de capacitação e cultura para fins eleitorais e partidários, conforme revelam áudios vazados e relatórios técnicos.
Verbas públicas sob suspeita
O IAJA, fundado por Moura em 2018, recebeu R$ 1,2 milhão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 2024 para cursos de qualificação de 750 jovens na Amazônia. Além disso, o Ministério da Cultura (MinC) destinou R$ 700 mil via Programa Nacional de Comitês de Cultura (PNCC) para ações culturais no Amazonas. Porém, denúncias apontam que parte desses recursos foi desviada para a campanha de Moura à Câmara de Vereadores de Manaus em 2024.
Em um áudio vazado, datado de abril de 2025, Moura orienta: “A verba tem que ir para a campanha […] o Ministério está ciente”. A gravação, feita pelo ex-presidente do IAJA, Marcos Rodrigues, sugere que R$ 500 mil foram redirecionados para atividades de militância política, sem prestação de contas. Outras irregularidades incluem a subcontratação irregular de serviços e a ausência de comprovação da execução dos cursos.
Uso político do PNCC
O IAJA também coordena o Comitê de Cultura do Amazonas, beneficiado por indicação direta de Moura. Áudios de março de 2025 revelam a secretária pressionando o MinC para direcionar ações do comitê a aliados petistas, admitindo: “Foi por minha indicação […] a cúpula do Ministério sabe”.
Relatórios apontam que eventos culturais financiados pelo programa foram usados para promoção partidária, violando a finalidade pública dos recursos.
Além disso, R$ 200 mil do governo do Amazonas, destinados a projetos com crianças, teriam sido usados para financiar uma escola de samba que homenageou Moura, segundo denúncias de ex-funcionários.
Resposta do Governo
Na sexta-feira, 19 de setembro de 2025, o governo federal anunciou a rescisão dos convênios com o IAJA, suspendendo novos repasses e exigindo a devolução de valores não justificados. O MTE e o MinC iniciaram auditorias internas, enquanto a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) investigam as denúncias, atendendo a uma representação da deputada Caroline de Toni (PL-SC). O Ministério Público Federal (MPF) também apura possíveis crimes de peculato e desvio de finalidade.
Anne Moura nega as acusações, classificando os áudios como “armação” de um ex-aliado e afirmando que o IAJA cumpriu suas metas. O PT e o governo reforçam que as seleções de projetos foram técnicas, negando conivência com irregularidades.
Contexto político e repercussão
O caso alimenta críticas ao governo Lula por repasses a entidades ligadas ao PT, em um momento de escrutínio sobre o uso político de recursos públicos. O PNCC, criado em 2023, já foi questionado por beneficiar aliados do partido. A Amazônia, região estratégica para o governo, que retomou o Fundo Amazônia, vê sua imagem manchada por denúncias de aparelhamento.
O escândalo pode levar à abertura de uma CPI no Congresso, enquanto a sociedade cobra transparência. “É inaceitável que verbas para jovens e cultura sejam usadas em campanhas”, disse a deputada Caroline de Toni. A população de Manaus, diretamente afetada, aguarda os desdobramentos.
Fontes: Estadão, Pleno.News, relatórios do MTE e denúncias ao MPF.