Artigo

Hora de nos ‘outonizar’

 By Moacir Melo

A proposta é do poeta maior brasileiro, Carlos Drummond de Andrade: É hora de nos ‘outonizar’ e antecipar e preparação para a estação da renovação, a primavera.

Sim, como nos relata o poeta, quando, observando de alguma janela em algum lugar na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, contemplou, em um dia de mês de março, no início do outono, com alta sensibilidade após ver um céu límpido, um conjunto de árvores todas muito verdes, com exceção de uma amendoeira, que já mostrava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom, como narra o poeta, no poema: “FALA, AMENDOEIRA”

Neste poema, Drummond conversa simbolicamente com a árvore, pedido que ela fale sobre o mundo e o tempo. A amendoeira se torna uma metáfora para a vida, a memória e a passagem do tempo, elementos recorrentes na obra do nosso poeta. Na verdade, o poema não é divulgado na íntegra, mas seu título já sugere uma busca do poeta por respostas na natureza e nas coisas simples da vida, como deve ser sempre. Sim, todo tempo é hora de outonizar. Todo tempo é momento certo para comparar a vida humana com a amendoeira que antecipa as estações.

Assim, usando de prosopopéia, e respondendo ao chamado pelo exemplo da árvore:

Não vês? Começou a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.”

Podemos, também, insistir:  E vais outoneando sozinha?

“Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação da primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno”.

O diálogo pode continuar até uma conclusão final:

”Quero apenas que te outonize com paciência e doçura…as folhas caem, é certo, e os cabelos também… outoniza com dignidade, meu velho”. Sugere.

Bravo, Drummond que nos conduz a uma reflexão sobre como renovar nossa vida, conceitos e esperanças, seguindo o exemplo da amendoeira que se antecipou às demais árvores na renovação, deixando cair as folhas velhas e, com isto, preparando para o inverno que logo se aproxima e receber vida nova na primavera. É o fluxo da vida, por excelência. É preciso renovar sempre: renovar conceitos, maneira de evoluir, de pensar, de agir, etc. tornando-nos mais amigos, interessados pelo próximo, pela nação como um todo e pelo país. Obrigado, Drummond!

Neste contexto proponho uma reflexão: que abramos a janela dos nossos corações e que, além de vermos e contemplarmos as belezas naturais à nossa frente, em cada lugar e no seu tempo certo, possamos  enxergar, também, o que é invisível aos nossos olhos. E que possamos olhar para dentro de nós e enxergarmos nosso potencial, agradeçamos ao Criador pela dádiva da vida a cada momento, que sirvamos o próximo em profundidade.  Aí, sim, será a melhor maneira de nos OUTONIZAR.

Podemos e devemos, também, desejar aos nossos líderes políticos que se outonizem em seus propósitos políticos, visando a melhoria do nosso povo, através de garantia de uma futuro advindo do preparo através de educação de qualidade e em igualdade de condições como todos. Aí, sem, será a melhor maneira de outonizar. Drummond, lá dos céus, ficará muito feliz.

Vamos nos outonizar? Estejam todos convidados!

Moacir Melo, empresário e articulista
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