Artigo

CARIDADE TRAVESTIDA

By Moacir de Melo

No “EVANGELII GAUDIUM”, capítulo II, Crise do Compromisso Comunitário, do Santo papa FRANCISCO, ao anunciar ao episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre o evangelho no mundo atual, a Papa exortou:

“Não a uma economia de exclusão; não a um dinheiro que governa em vez de servir; não a uma desigualdade social que gera violência”, entre outros.

Sim, o pontífice não exorta a caridade por si só porque esta tem pouco valor social. Não leva a nada, a não ser à manutenção do status quo do beneficiado porquanto o mesmo tende a se acomodar, sendo certo que o trabalho é enaltecedor da dignidade humana.

Na verdade, o Papa, como quem quer que seja, conhece os problemas que afligem o mundo de uma maneira geral, que é a falta de justiça social, por essência, sendo certo que reconhecer os problemas é o primeiro passo para promover soluções.

Não é de agora, porém, que já se observam estas evidencias claras. Sim, o assunto é recorrente como recorrente, também, é a falta de interesse em procurar as soluções de interesse social. Na verdade, a exclusão, em nosso país, se inicia na educação básica pública desqualificada que gera desigualdades ao não ter nenhuma condição de competir com as escolas particulares.

Porém, nossos governantes pós constituição de 1988, descobriram a fórmula simplista demais para resolver ditos problemas: Serem bonzinhos! E a festa começou e não para mais.  Caridade aqui, ali e alhures, com aumento de impostos e pronto, problema resolvido. Será?

Recorro ao escritor francês, Vitor Hugo (Os Miseráveis) quando escreveu que “Ser bom é fácil, o difícil é ser justo”. Ele não acreditava, como eu, que alguns venham ao mundo para viver de caridade e outros para viver na ostentação e vaticinou:

“Fazemos caridade quando não conseguimos impor a justiça. Porque não é da caridade que necessitamos. A justiça vai às causas; a caridade aos efeitos.”

Bravo! Acordem, governantes!

Afinal, quem acredita que em nosso país temos uma nação tão grande de miseráveis necessitando eternamente de caridade via bolsas disto e daquilo? Acredito que nem tanto. Porém, o pior, é que as pessoas querem permanecer eternamente no sistema, que não contempla a porta de saída desses dependentes. Isto concorre, destarte, para a falta de interesse das pessoas beneficiárias em concorrer para seu sucesso próprio bem como o progresso do país como um todo.

Por isso mesmo, as empresas brasileiras em todos os setores produtivos (comércio, serviços, indústria) disputam as poucas e despreparadas pessoas disponíveis dispostas a renunciar às tetas governamentais, para seus quadros de trabalho. Efeito da caridade eterna que leva à pobreza. Fruto, também, da alta pejotização que assistimos em nosso país.

Porém, o que concorreu, concorre e vai continuar concorrendo, realmente, para distanciar cada vez mais os ricos dos pobres e gerando uma nação cada vez mais dependente da caridade estatal? O problema inicia-se na educação fundamental. Ora, já se disse que uma criança que chega aos 10/11 anos de idade em uma escola precária, que não aprendeu a ler nem escrever, não tem futuro. Choca-nos saber, então, o resultado do programa Criança Alfabetizada divulgado pelo Ministério da Educação recentemente, em que 44% das crianças com 7 anos de idade não são alfabetizadas, em grande contraste com alunos de escolas particulares.

Pergunta-se: Onde está a igualdade de oportunidades? Qual é o futuro dos alunos na escola de primeiro grau pública?

Reflexo disto ocorre, também, na cultura da “Universidade Para Todos” onde, segundo o Jornal O Globo, apenas um em cada dez formandos dos cursos de Pedagogia, Direito, Administração e Enfermagem, conseguem emprego dentro de sua área de formação. Por outro lado, temos um país com baixíssima produtividade e à procura de profissionais em todos os setores da produção. Reflexo da falta de profissionalização para as demandas exigidas pelo mercado. Reflexo do Ensino Médio não profissionalizante e desmotivador dos jovens.

Embora não creiamos em melhoras no futuro, por desinteresses de nossos mandatários políticos, (afinal, quando vão votar o novo Ensino Médio?) sabemos que é necessário continuar sendo caridosos, mas é obrigação fazer mais do que isto. É preciso procurar exterminar a causa que torna necessária a caridade. A luta continua muito difícil por falta de envolvimento dos mandatários do mundo, predominância para países do terceiro mundo ou em desenvolvimento, Brasil, com muita ênfase, no meio.

Sendo certo que, enquanto não se resolve partir para eliminar as causas do problema, nossa nação vai se tornando cada vez mais excluída da economia, da evolução, da modernização, da inovação, convivendo com baixa produtividade e violência crescente. Se não for eliminada a desgraça da caridade para quem não precisa, o futuro que nos aguarda poderá ser igual ao que aconteceu na França em 1789. É esperar para ver.

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