Artigo

“Rebeldes sem causa”, ou não?

By Moacir de Melo

Em 1955, o cinema nos apresentou um símbolo inesquecível da juventude inquieta: James Dean no filme “Rebel Without a Cause” que, por aqui, levou o título de “Juventude Transviada” e marcou uma geração denominada Baby Boomer (1945-1964), nascida após a 2ª. guerra mundial.

O ícone James Dean, com sua jaqueta vermelha, o olhar aflito e os diálogos curtos com pais emocionalmente ausentes marcou uma geração sufocada por regras rígidas, carente de escutas e procurando significado, sem rumo, desnorteada, em busca de algo que nem ela mesma sabia nomear. O mundo não estava bom. Por isto, esta geração usou os meios então possíveis: se fez ouvir nas ruas, nos festivais, nas revoluções culturais, nas lutas pelos direitos civis, enfrentou guerras reais, ditaduras, conservadorismos engessados e paradigmas impostos.

Porém, estas rebeldias foram contra instituições visíveis: governos autoritários, guerras declaradas, repressão ao moral. E foi com música, poesia e movimentos diversificados que esta geração que estava e esteve disposta a transformar o mundo num lugar melhor para se viver. E isto foi feito com guitarras barulhentas e afinadas, marchas e ideais declarados. Com isto, mudamos costumes, reinventamos a arte, diversificamos as músicas, criamos pontes culturais em todo planeta. Claro, sou desta geração.

A geração Z, (1990 – 2011), por sua vez, nasceu em um planeta conectado, onde as bandeiras da diversidade, tecnologia e da liberdade já tremulavam. Porém, ao invés de se sentirem empoderados, muitos se sentem perdidos, não por falta de alternativas mas por excesso de possibilidades e ausência de direção.  Sim, a geração “Z” se rebela contra opressores invisíveis, (o que é pior): ansiedade (que pode levar ao suicídio), pressão estética, imediatismo, solidão em meio à hiper conectividade. Ou seja, o campo da batalha mudou, porém, a dor de lutar por identidade e sentido permanece.

Dentro deste contexto, histórico com certeza, grande parte deles se tornam nem nem (nem estudam nem trabalham), não se preocupam em fazer carreira em uma empresa, deixam o serviço sem nenhuma explicação em empresas cada vez mais com baixa produtividade. Porém, uma geração em busca de identidade.

Na geração Boomer os gritos de alerta foram, principalmente, nas músicas de protestos, como “Imagine”, “Blowin in the Wind”; do lado brasileiro, como “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Roling  Stones” ou “Para não dizer que não falei das flores,” todas elas clamando por paz mundial ou pedindo liberdade, nosso bem maior.

Claro que cada geração canta sua incerteza com a linguagem do seu tempo, onde a música continua sendo o espelho da alma jovem, às vezes confusa, às vezes furiosa, porém, sempre viva. Por isto, não se pode julgar a juventude de agora com visão no passado.

Porém, há uma ponte invisível que conecta as gerações. Enquanto a geração boomer se fez ouvir nas ruas, nos festivais, nas revoluções culturais e nas lutas por direitos civis, a juventude atual grita por dentro, com fones de ouvido, olhos nas telas e corações sempre inquietos e atuando em redes sociais.

Cabe-nos, então, lembrar que as dores deles são reais e diferentes das nossas. Afinal, a geração que enfrentava tanques agora vê jovens enfrentando telas, solidão e até depressão. Acredito que nosso papel neste contexto histórico, como geração que atravessou tempestades e ajudou a virar a pagina do século passado, seja o de não oferecer respostas prontas, mas escuta e compreensão. Mostrar com empatia que as perguntas fazem parte da construção de cada um. Sim, devemos inspirar esta geração a mudar o mundo novamente, conscientes de que há algo que não muda: o desejo de fazer sentido, de pertencer e de viver com autenticidade. Afinal, são rebeldes sim, porém, com causa!

Nosso Papara Francisco, falecido em 21/04/25, foi um grande motivador desta geração e deixou de legado aos jovens alguns chamados que se tornam preciosidades que citamos aqui como homenagem póstuma:

“Jovens, arrisquem! Mesmo que errem. Levantem-se. Não tenham medo de cair” (2019); “O mundo precisa de jovens corajosos, não de jovens aposentados”(Panamá 2019); “Façam barulho! Onde há jovens deve haver barulho. Sigam em frente (Itália 2013); “Jovens, não enterrem seus talentos! Tenham coragem de sonhar coisas grandes (RJ 2013).

São vários recados chamando os jovens a não desperdiçarem seus dons e a ousarem sonhar além das limitações impostas pelo medo ou pela sociedade. Um caminho a seguir.

Sim, com certeza, os jovens de agora e do futuro sempre dirão: obrigado, Papa Francisco! Evidente, então, que o caminho do entendimento e da compreensão passa por motivação, escutas, sem expectativas de soluções vindas de cima, mas assumindo seu papel na construção de um mundo melhor.

Cabe-nos, a cada um das gerações passadas, fazer a nossa parte. A geração Z clama por isto. Não é tarefa fácil, garanto.

              Moacir de Melo é empresário e articulista
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