
Em um final de semana prolongado (semana santa), em encontro com família e gerações diferentes, em meio a festividades também prolongadas onde músicas são ouvidas em tempo integral, evidente que num ambiente festivo por demais, em algum momento ouvi, como boas lembranças, a música “I Don’t Know, da cantora italiana Érika, que foi lançada há mais de 20 anos, que começa assim:
I don’t know what I want, what I need, what I Feel (eu não sei o que quero, o que preciso e o que sinto). A questão imediata: E agora, aonde chegaremos com tamanha indecisão? Resposta difícil.
Fato curioso é que esta música composto em outro tempo, início da internet, ainda sem redes sociais, parece escrita para agora e configura muito bem o grito de uma geração composta pelos nascidos entre 1990 e 2010, ou geração “Z”.
Sim, nos dias de hoje (2025), convivemos com a Geração Z, nascida entre telas, redes sociais, inteligência artificial e um excesso de informação que, paradoxalmente, não preenche o vazio existencial.
É fato que esta geração cresceu sob a promessa de que tudo seria fácil. Afinal, o conhecimento está a um toque, as oportunidades estão globalizadas, a comunicação é instantânea.
Ainda assim, os índices de ansiedade e depressão entre os jovens são crescentes cada vez mais. Não à toa o planeta convive com mais de 800 mil suicídios por ano e, segundo pesquisa da Organização Mundial de Saúde, a geração Z é a mais afetada.
O Rotary International, organização da qual faço parte, tem desenvolvido, mundo afora, ações com vistas a diminuir este impacto nesta geração meio sem rumo. Não é tarefa fácil. Exige envolvimento total e permanente.
E é neste ambiente que esta geração dá seu grito de orfandade emocional.
Se no passado os pais eram figuras autoritárias, mas distantes, hoje, são muitas vezes ocupados demais, ausentes por dentro, mesmo quando presentes por fora. A orfandade que atravessa os tempos não é física, mas afetiva. E o que ela gera é o mesmo: solidão, confusão, fuga. E a rebeldia se manifesta de maneira silenciosa como ansiedade, ironia, negação digital e redução ao nada.
Neste ambiente a Geração Z se retrai, se desconecta, se refugia em bolhas virtuais onde pode ser quem quiser, menos ela mesma. No fundo, como James Dean no filme de 1955, “Juventude Transviada”, os jovens de hoje ainda pedem: “Me escutem, me vejam, me amem”. Precisam de direção, não de ordens. Querem verdade, não performances.
A letra da música que dá título a este artigo registra exatamente esta tensão: O querer sem saber o quê; o sentir sem compreender o sentimento, o agir travado pelo medo de errar. Sim, nossa juventude de agora vive um paradoxo: está hiper conectada ao exterior mas profundamente desconectada de si.
Verdade que a sociedade atual, mais liberal e tecnológica, não necessariamente se tornou mais acolhedora. Apenas se tornou mais distraída. Fala-se muito sobre os jovens, mas pouco com eles. Não os escutamos de verdade e, por isso, eles gritam em silêncio. Sugiro ouvir a música que é muito bonita, antiga e atualíssima para nossa geração Z, em evidência.
Sinto, porém, que nem tudo está perdido. É possível ajudar e melhorar a convivência.
Aos pais, educadores, líderes religiosos, entidades de serviços e formadores de opinião, cabe resgatar o que se perdeu: a presença, o diálogo e o tempo. Porque, embora mudem os cenários, os figurinos e as gírias, a dor da juventude continua a mesma: a de não saber para onde ir, nem com quem contar agora com medo de se entregar ao amor o que torna a vida sem graça e motivação.
Sendo certo que enquanto não nos dispusermos a ouvir, sem julgar e a caminhar junto, sem controlar, continuaremos diante da mesma cena: jovens à beira do abismo emocional. O grito é urgente:
I DON’T KNOW. A missão é de cada um de nós, gerações passadas.
