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O CURUPIRA PÓS-COP30: CRUCIFICAÇÃO E RESSURREIÇÃO

By Moacir de Melo

Já no mês de julho de 2025, em artigo publicado, anunciamos nossos sonhos ou devaneios de que os mais de 50 mil participantes da COP30 tornassem-se CURUPIRAS mundo afora e que, da conferência, saíssem decisões concretas e obrigatórias de cada participante.

Para tanto, seria preciso alinhar a força simbólica do CURUPIRA com ações práticas e mensuráveis, como condições para fiscalização ambiental, combate aos crimes ambientais e apoio às comunidades tradicionais da Amazônia o que implicaria em decisões importantes como fontes seguras para financiamento climático, e, principalmente, decisões políticas fortes.

E prognosticamos: Fora disto, estaríamos queimando, de maneira indevida, nosso eterno personagem de quase 500 anos que reflete, ainda nos dias de hoje, sua eterna lembrança de que cuidar das florestas e dos seus residentes, animais inclusos, é cuidar da vida.

Pois bem, findo o evento como ficou nosso eterno personagem?

Podemos admitir que, de certa forma, ele foi crucificado mas teve força para ressuscitar. Até porque a comunidade internacional, ONU inclusa, encontrou no símbolo da floresta um alvo conveniente para responsabilizar pelo fracasso global. Delegações romantizaram-no em discursos, transformaram-no em mascote ecológico, mas continuaram deixando a floresta queimar. O mito virou mártir.
Verdade é que o Brasil, como país sede da COP30, trabalhou, com toda força possível, o chamado “mapa do caminho” para conseguir compromissos com os financiamentos. Não foi suficiente! Por isto, não houve pacto ou fotografia oficial capaz de esconder que, mesmo após uma década de negociações, (COP20, Paris 2015), a temperatura segue subindo e as metas continuam descumpridas. Porem, do lado de cá, nosso personagem continua firma. Sim, em outra leitura, podemos afirmar que ninguém endireitou os pés do nosso CURUPIRA.

Sim, seus pés foram reinterpretados. Os pés virados agora apontam não para iludir caçadores, mas para revelar as trilhas da verdade climática. Apontam para fora, cobrando justiça histórica e financiamento real, que fora negado principalmente pelos países mais ricos e mais poluidores.

Por isto seus pés apontam para cima, denunciando o abismo entre promessa e ação, e, também, apontam para dentro do Brasil, lembrando que a defesa da floresta começa no seu chão e não nas salas refrigeradas das conferências, com discursos bonitos.

Vale registrar o reconhecimento da ONU nos relatórios pós-COP30 de que não há solução climática sem florestas tropicais.

E o CURUPIRA, involuntariamente, tornou-se o símbolo dessa constatação. Ele representa o que o mundo insiste em esquecer que a natureza não negocia, não perdoa e não prorroga prazos. Se a COP30 teve avanços modestos, seu maior legado foi devolver ao Brasil a consciência de que nossa floresta é protagonista, não figurante, e que nosso folclore guarda lições mais sérias do que muitos relatórios oficiais.

Por tudo isto, nosso personagem secular não morreu. Sobreviveu às queimadas, aos retrocessos e às conveniências políticas e diplomáticas mais uma vez. Porém, deixou seu recado para o mundo de que o financiamento climático é o maior obstáculo para a ação climática global. Por isso, nosso CURUPIRA caminha entre nós como metáfora urgente, agora irritado, vigilante e mais relevante do que nunca. Porque, enquanto o mundo discute metas, ele continua fazendo o mesmo: protegendo o que ainda resta e conscientizando pessoas.

O legado que fica aos mais de 180 países presentes com delegações ou lideranças é que não tenham mais dúvidas: passa da hora do mundo, principalmente as maiores potencias econômicas mundiais, negacionistas, admitir que é hora de escutá-lo, antes que seus pés, sempre virados, nos indiquem um caminho sem retorno, fato que já está acontecendo.

Afinal, com o aquecimento em ascensão, a vida humana vai ficando cada vez mais difícil no planeta sofrido.
E viva nosso eterno personagem folclórico, guardião da floresta!

VIVA O CURUPIRA!

MOACIR DE MELO

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