
O Brasil vive uma verdadeira febre fitness. Com cerca de 35 mil academias espalhadas pelo país e mais de 10 milhões de matrículas em 2023, segundo a IHRSA, o mercado fitness brasileiro é o segundo maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Mas, junto com o crescimento, vem uma queixa recorrente: os preços das mensalidades estão cada vez mais altos, e muitos consumidores questionam se estão enfrentando práticas abusivas. O que explica essa escalada de custos? E como diferenciar um preço justo de um aumento exagerado?
Um setor em plena expansão
O crescimento das academias no Brasil reflete uma mudança cultural. A preocupação com saúde e bem-estar nunca esteve tão em alta.
Dados do Ministério da Saúde (2023) mostram que 22% dos adultos brasileiros sofrem com obesidade e 9% com diabetes, o que tem impulsionado a busca por atividade física como prevenção. Campanhas de saúde pública e a influência de redes sociais reforçam essa tendência, transformando academias em destinos populares.
Além disso, o mercado evoluiu. Longe vão os dias em que academias eram apenas galpões com pesos e esteiras. Hoje, há opções para todos os gostos: desde treinos funcionais como CrossFit, yoga e HIIT até academias de alto padrão com piscinas, saunas e lounges. Redes como Smart Fit Premium, Bodytech e Cia Athletica apostam em serviços exclusivos, como treinadores pessoais e planos nutricionais, enquanto tecnologias como aplicativos de treino e equipamentos inteligentes atraem um público cada vez mais conectado.
Em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, o aumento do poder aquisitivo também alimenta o setor. Consumidores estão dispostos a pagar mais por experiências premium, o que explica o sucesso de academias sofisticadas em bairros nobres.
Por que os preços estão subindo?
O aumento das mensalidades, no entanto, tem gerado debates.
Segundo o Procon-SP, entre 2020 e 2024, os preços das academias subiram, em média, 25%, superando a inflação acumulada no período (18%, segundo o IPCA). Mas o que justifica esses valores?
Custos altos de infraestrutura: Academias modernas investem pesado em equipamentos importados, como máquinas da Life Fitness, que custam dezenas de milhares de reais. Espaços climatizados, vestiários de alto padrão e áreas de convivência também encarecem a operação. Em regiões como Vila Olímpia, em São Paulo, o aluguel de uma academia pode chegar a R$ 50 mil por mês.
Serviços diferenciados: Aulas exclusivas, como spinning com realidade virtual, ou acompanhamento personalizado elevam os preços. Enquanto uma academia popular como a Smart Fit oferece planos a partir de R$ 99/mês, academias premium em São Paulo podem cobrar de R$ 300 a R$ 1.500/mês.
Localização estratégica: Academias em áreas de alta demanda, como centros financeiros, têm mensalidades até 50% mais caras do que em regiões periféricas, reflexo do custo do aluguel e da concorrência.
Novas tendências: Modalidades como CrossFit e EMS (Eletroestimulação Muscular) exigem equipamentos especializados e instrutores qualificados, o que justifica preços na faixa de R$ 400 a R$ 800/mês.
Quando o preço vira abuso?
Apesar dos custos operacionais, algumas práticas levantam suspeitas de abusos. O Procon-SP identificou, em 2024, academias cobrando até 30% a mais de novos clientes para o mesmo plano oferecido a clientes antigos, uma prática que pode ser considerada discriminatória.
Outros problemas incluem:
Taxas ocultas: Taxas de matrícula, que variam de R$ 50 a R$ 200, nem sempre têm justificativa clara. Cobranças automáticas e multas por cancelamento também são alvos de reclamações, muitas vezes violando o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Falta de transparência: Alguns estabelecimentos omitem custos extras, como taxas para acessar unidades específicas ou serviços adicionais, surpreendendo os clientes na hora do pagamento.
Superlotação: Academias de baixo custo, como algumas unidades da Smart Fit ou Selfit, enfrentam críticas por filas em equipamentos e poucos instrutores, o que compromete a experiência, mesmo com mensalidades acessíveis (de R$ 80 a R$ 150).
O que dizem os números?
A pesquisa do Procon-SP de 2024 revela a disparidade de preços no setor:
Academias de baixo custo: R$ 80–R$ 150/mês (Smart Fit, Selfit).
Academias intermediárias: R$ 150–R$ 300/mês (Bio Ritmo, Just Fit).
Academias premium: R$ 300–R$ 1.500/mês (Bodytech, Cia Athletica).
Modalidades especializadas: R$ 400–R$ 800/mês (CrossFit, EMS).
Esse cenário mostra que, enquanto há opções para todos os bolsos, a percepção de preços abusivos cresce quando os serviços não correspondem ao valor cobrado.
Dicas para não cair em armadilhas
Para evitar surpresas desagradáveis, especialistas recomendam:
Comparar preços: Plataformas como Gympass ajudam a avaliar opções.
Ler o contrato com atenção: Fique atento a cláusulas sobre cancelamento e taxas extras.
Negociar descontos: Algumas academias oferecem condições melhores para pagamentos anuais.
Denunciar abusos: Em caso de cobranças indevidas, procure o Procon ou registre queixas no Reclame Aqui.
Avaliar o custo-benefício: Pergunte-se se os serviços oferecidos, como aulas exclusivas ou equipamentos de ponta, justificam o preço.
Um futuro mais equilibrado?
O mercado de academias no Brasil reflete a valorização da saúde, mas também expõe desafios. O aumento dos preços é, em parte, justificado por investimentos em qualidade e inovação, mas a falta de transparência e práticas questionáveis geram desconfiança. Para os consumidores, a chave é se informar, comparar e exigir seus direitos. Assim, é possível aproveitar o boom fitness sem cair em ciladas financeiras. (Fontes da notícia: Valor Econômico, Forbes Brasil, Esbrasil, Rota Jurídica, Correio Braziliense…)