Meio Ambiente

Mudanças climáticas estão intensificando as ondas de calor, apontam cientistas

Segundo pesquisadores do ClimaMeter, os fenômenos semelhantes ao que aconteceu em março no Brasil estão 1°C mais quentes do que as ondas de calor registradas em anos anteriores.

As mudanças climáticas provocadas pela ação humana – em especial a emissão de gases do efeito estufa consequente da queima de combustíveis fósseis – estão intensificando as ondas de calor registradas no Brasil, conclui um “estudo rápido de atribuição” realizado por pesquisadores do ClimaMeter divulgado no domingo (24).

 ClimaMeter é um grupo de cientistas de diferentes países que realiza estudos que colocam os extremos meteorológicos em uma perspectiva climática logo após a sua ocorrência. O grupo, liderado por pesquisadores do centro especializado em ciências climáticas da Universidade Paris-Saclay, é financiado pela União Europeia e pela Agência Francesa de Investigação (CNRS).

De acordo com o monitoramento, a onda de calor verificada em março está 1°C mais quentes do que as ondas de calor registradas em anos anteriores.

Na segunda quinzena de março, diversas capitais tiveram recordes de temperatura por causa da terceira onda de calor do ano. A cidade de São Paulo, por exemplo, chegou a registrar 34,3°C, maior temperatura para o mês desde o início da série histórica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Davide Faranda, diretor de pesquisa da Agência Francesa de Investigação (CNRS) e do Instituto Pierre Simon Laplace (IPSL), explica que, ao comparar as temperaturas atuais com as registradas em eventos passados, é possível observar um pico recorde de calor.

Faranda, um dos líderes do estudo, também aponta que há contribuições do El Niño e do aquecimento das águas dos oceanos Pacífico e Atlântico, mas ressalta que a influência do homem se sobressai.

Onda de calor fora de época

Os pesquisadores também analisaram que as ondas de calor no passado aconteciam, principalmente, entre novembro e dezembro, na transição da primavera para o verão. E que, atualmente, estão se tornando mais frequentes entre fevereiro e março.

Davide explica que a queima de combustível fóssil que está causando o aumento da temperatura global não é homogênea ao longo da estação. Isso faz com que os eventos de calor extremo estejam piorando não só na transição para o verão, mas também ao longo da primavera e do outono.

Nas demais estações, a combinação de outros fatores climáticos pode favorecer a sensação de calor. “No começo do outono, por exemplo, ainda há muito calor acumulado do verão, que se combina aos ventos fortes característicos do outono. Isso pode desencadear tempestades que, nesse cenário, potencializam a sensação desse calor úmido”, analisa o pesquisador.

Medidas urgentes

Os pesquisadores ainda alertam para a tendência de continuidade e agravamento desse padrão caso medidas não sejam tomadas.

Ele chama atenção para a necessidade de se pensarem estratégias de mitigação do calor, como a redução de queimadas e a mudança no uso dos combustíveis.

O estudo também joga luz sobre a questão da justiça climática, isto é, como pessoas em diferentes classes são impactadas de formas distintas pelos eventos extremos do clima.

“Pessoas que podem pagar por um ar condicionado podem suportar esse calor. Mas quem está em uma casa com pouca ventilação, que não permite a entrada de ar fresco durante a noite, isso é um grande problema. As temperaturas observadas estão próximas ao limite que o corpo humano pode sustentar”, alerta Faranda.

O pesquisador comenta que, considerando como o calor impacta a população, em especial a de baixa renda, também é preciso repensar o funcionamento das cidades.

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