A Argentina registra uma série de saques a supermercados e a lojas entre a última sexta-feira (18) e essa quarta-feira (23). As ações, supostamente organizadas por grupos de bairros populares, já provocou a detenção de 200 pessoas. A 60 dias das eleições gerais de outubro, as pilhagens alimentam o debate político durante mais uma disparada inflacionária no País sul-americano.
ONDA DE SAQUES
Desde a última sexta-feira (18), grupos de argentinos se reúnem para forçar a entrada e roubar produtos de supermercados e de outros estabelecimentos. Supostamente autoconvocados pelas redes sociais, os indivíduos têm provocado destruição na capital Buenos Aires — região mais populosa do País, com cerca de 40% do total — e nas cidades de Mendoza (oeste), Córdoba (centro), Neuquén (sudoeste) e Río Negro (sul).
Relatórios oficiais divulgados em coletivas de imprensa informam que, até quarta-feira, foram registras 150 tentativas de saques e 94 pessoas foram detidas em bairros da periferia buenairense. Na metrópole, uma loja foi alvo de um ataque, que conseguiu ser repelido por vizinhos.
Em Mendoza, 66 indivíduos foram presos. “São criminosos que agem de forma organizada, com a participação de menores de idade”, diz um comunicado do governo. O promotor de Córdoba, Ernesto de Aragón, detalhou que “foram presas 23 pessoas por diversos ataques a comércios”. Também foram registradas mais de uma dezena de detenções em Neuquén e Río Negro.
QUEM SÃO OS SAQUEADORES?
O antigo dirigente de movimentos sociais grevistas e pré-candidato à Presidência, Raúl Castells, disse ao canal de TV Crónica: “Eles estão saindo em busca de comida e se não encontrarem comida, nós, que somos os que estamos convocando isso (saques), estamos dizendo a eles que, sem roubar dinheiro ou quebrar nada, levem o que puderem para trocar por comida”.
O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, afirma que “moradores e moradoras não participaram em massa nisso”, destacando que, na verdade, muitos resistente “tentaram impedir que os violentos realizassem essas ações”.
POBREZA EXTREMA E INFLAÇÃO DESCONTROLADA O índice de pobreza da Argentina atingiu os 40%, segundo dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA), referentes ao ano passado. Ou seja, quatro a cada dez habitantes vivem na pobreza.
Além do aumento no número de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, o País enfrenta uma das inflações mais altas do mundo — mais de 100% em comparação ao mesmo período no ano anterior. O índice mede a elevação dos preços de bens e de serviços.
Há mais de uma semana, uma desvalorização de 21% foi acordada com o Fundo Monetário Internacional para desbloquear os desembolsos de um programa de crédito de US$ 44 bilhões (R$ 217 bilhões na cotação atual), disse o ministro da Economia e candidato presidencial pró-governo, Sergio Massa.
Seguiu-se uma enxurrada de reclamações da população após a revisão dos preços em 30%. Segundo consultores, o custo de vida deve chegar aos dois dígitos em agosto e setembro.
REAÇÃO DE GOVERNANTES E POLÍTICOS
O presidente peronista Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, considerou os saques “fatos organizados”, pediu para “cuidar da convivência democrática” e prometeu cuidar “dos problemas dos argentinos e suas rendas”, mas lhes pediu “que preservem a paz social, por favor”.
Sua porta-voz, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei (extrema direita) e Patricia Bullrich (direita) “constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize”.
Já para Milei, o candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto (30% dos votos), “é trágico ver novamente depois de 20 anos as mesmas imagens de saques que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda”, compartilhou nas redes sociais.
Bullrich, que ficou em segundo lugar (27%), disse à rádio Rivadavia: “Precisamos de ordem e restaurar a autoridade”. Mas o ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou que “o que aconteceu não pode ser atribuído a fulano ou sicrano”.