O Consul Romano Marco Túlio Cícero, ou simplesmente Cícero (106 – 43 a. C.), foi considerado o maior orador romano de todos os tempos. Respeitado por sua conduta ética e moral, representava, no Senado Romano, a indignação popular então reinante contra políticos corruptos. Em um dos quatro de seus discursos que compõem “as catilinárias”, em repressão verbal ao Senador Catilina que fora flagrado em atitudes criminosas no ano de 63 a. C., e que se recusava a renunciar ao Senado Romano, Cícero bradou, em discurso célere proferido em 08/11/63 a. C.:
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós esta tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Não sentes que teus planos estão à vista de todos?
Na insensatez e indiferença do Senador Catilina às suas palavras, Cicero se angustiava: “Ó tempos, ó costumes. Que há, pois, ó Catilina, que ainda possas esperar, se nem a noite com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios, nem uma casa particular pode conter, com tuas paredes, os segredos da tua conspiração? Se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”
Jurista, Cícero se esforçou deveras para que Catilina admitisse seus graves erros. Não obteve sucesso. Porém, não tinha medo e expressava o que lhe ditava o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto…”
Bons tempos! A bem da verdade, os Catilinas da vida nunca foram extintos e habitam entre nós, fortes como nunca, preferencialmente, no meio político. Da mesma forma fingem não se dar conta da gravidade da situação. Fazem de conta que nada ouvem, juram inocência, agarrando-se doentiamente ao seu mandato político. Como nós, Cícero já não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: “Mas de que servem minhas palavras? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E atacou os políticos que, apesar de todas as confusões, apoiavam o Senador Catilina: “Há, todavia, nesta Ordem de Senadores, alguns que, ou não veem aquilo que nos ameaça, ou fingem ignorar aquilo que veem.”
Em tempos modernos, a história se repete e nada mudou por aqui. Sim, temos, da mesma forma, nossos Cíceros, homens honestos e probos que representam o anseio do povo e da nação brasileira, sim senhor! Nosso povo, cada vez mais politizado, sabe quem são. Da mesma forma, sabe quem são nossos Catilinas agarrados no poder e conspirando contra a nação brasileira, por meio da corrupção e dos maus exemplos deixados para nossas gerações presente e futuras. Com certeza serão lembrados pelos maus legados.
Se estivesse entre nós, Cícero teria que editar vários discursos no estilo das catilinárias com objetivos de salvar nosso povo dos nossos Catilinas de plantão. Em sua falta, resta-nos aplaudir, com entusiasmo, nossos homens probos que, no exercício de sua missão nos parlamentos do país, são pouco ouvidos. Fazer o que?
Pelo sim, pelo não, temos o consolo de dizer que temos um país rico, que somos um povo unido, pacífico, maioria cristã, que falamos a mesma língua de norte a sul, que somos cheios de recursos naturais. Podemos também lembrar o poeta brasileiro Mário Quintana, em última instância: “Eles passarão, eu passarinho.”
Até eles passarem, contudo, não teremos foco no que realmente será capaz de eliminar as nossas desigualdades sociais e financeiras, como por exemplo, nosso péssimo ensino fundamental e médio, que caminha celeremente para se tornar o pior do planeta, entre outras coisas mais. Com isto, Catilinas brasileiros, vamos empobrecendo cada vez mais. Fica o recado: a culpa é de vocês!
Fica, também, nosso agravo, plagiando o orador romano Cícero:
Até quando abusarão da nossa paciência?