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Agricultores entram em confronto com a polícia em Bruxelas após bloquear ruas com mil tratores

A tensão cresce com a mobilização dos agricultores europeus

A tensão cresce com a mobilização dos agricultores europeus, que continua nesta quinta-feira (1º). Cerca de mil tratores bloqueiam várias ruas de Bruxelas, onde os líderes europeus chegaram a um acordo para atribuir uma ajuda de € 50 bilhões à Ucrânia. A questão agrícola deverá ser discutida no encontro, diante do aumento dos protestos da categoria que já atingem vários países da Europa.

Os tratores bloquearam várias ruas da capital belga, onde fica a sede das instituições europeias. De acordo com os manifestantes, o protesto visa denunciar “a loucura que ameaça a agricultura”. No final da manhã, alguns deles jogaram ovos contra o prédio do Parlamento europeu, iniciaram incêndios e acenderam fogos de artifício. Os policiais usaram jatos de água para dispersar os participantes do protesto.

Na noite anterior, agricultores franceses e belgas bloquearam juntos um ponto na fronteira para denunciar a “distorção da concorrência” nos acordos de livre comércio, pedindo “anúncios consistentes” dos líderes europeus.

O objetivo do encontro desta quinta-feira em Bruxelas era convencer o premiê húngaro, Viktor Orban, a aprovar € 50 bilhões de ajuda para a Ucrânia, o que acabou ocorrendo. Mas a crise agrícola acabou se impondo no debate e o líder nacionalista a utilizou para justificar sua posição contrária à atribuição dos recursos aos ucranianos.

“É um erro da Europa não levar a sério a voz do povo”, declarou Orban em um vídeo postado em sua conta no Facebook. As imagens mostram o premiê húngaro passeando nos meios dos tratores à noite e apertando a mão de um manifestante.

“A Comissão Europeia deve representar os interesses dos agricultores europeus em relação aos ucranianos e não o contrário”, disse Orban, em uma outra mensagem transmitida por seu partido, o Fidesz, denunciando a concorrência “desleal” dos produtos ucranianos.

“A solução para este problema é mudar os líderes de Bruxelas nas eleições europeias de junho”, acrescentou. O líder nacionalista já tinha dito no início desta semana que a mobilização dos agricultores mostrava “o quanto a Ucrânia é um problema grave para a Europa, independentemente da guerra”.

“Temos que ter muito cuidado porque a Ucrânia é um país enorme e a sua aproximação, ou mesmo a sua adesão à UE, terá um impacto enorme e desastroso nas economias europeias, especialmente no setor agrícola”, frisou o premiê húngaro em entrevista à revista belga Le Point.

Agricultores na Assembleia francesa
Durante a reunião desta quinta-feira na capital belga, o presidente francês, Emmanuel Macron, deverá conversar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre o “futuro da agricultura europeia”, anunciou o Palácio do Eliseu.

A ajuda divulgada na quarta-feira (31) pelo governo francês e as concessões da Comissão Europeia sobre retirada de terras da produção e importações ucranianas, não foi aceita pela categoria, que também segue mobilizada na Itália, Espanha e Alemanha. Em Portugal, também foram registrados protestos nesta quinta-feira.

Véronique Le Floc’h, presidente da Coordenação Rural (CR), o 2º maior sindicato agrícola do país, sugeriu em entrevista à rádio francesa RMC que os agricultores “que queiram entrar em Paris” venham à Assembleia Nacional para encontrar com os deputados.

O objetivo, disse, é demonstrar o apoio às 91 pessoas detidas na quarta-feira por terem entrado no mercado atacadista de Rungis, em Val-de-Marne, na região parisiense, a pé. De acordo com a promotoria de Créteil, 79 ainda estavam sob custódia policial na manhã desta quinta-feira.

No início desta manhã, o clima em torno do mercado era calmo. O local foi escolhido como um alvo “simbólico” dos tratores na manhã de segunda-feira. O comboio que foi bloqueado várias vezes pela polícia, retirou-se temporariamente na manhã de hoje, segundo um representante do sindicato.

Os presidentes dos sindicatos majoritários FNSEA-Jovens Agricultores, Arnaud Rousseau e Arnaud Gaillot, conversaram novamente com o premiê francês, Gabriel Attal, nesta quarta-feira e novos anúncios do governo são esperados durante o dia.

Protestos em outras regiões francesas
De acordo com o sindicato FNSEA de Haute-Loire, cerca de 50 supermercados foram visados na noite de quarta para quinta-feira por “cerca de 200 tratores” e seus acessos bloqueados em quatro cidades da região de Haute-Loire, no sudeste.
O objetivo foi denunciar o comportamento “inadequado” dos grandes varejistas que “coloca uma pressão insana sobre nossos agricultores, com margens sufocantes”, denunciou o sindicato.

No total, na Na França, mais de 150 manifestações foram registradas na quarta-feira, principalmente em torno de Orange, Nîmes, Arles, Aix-en-Provence, Grenoble e Nantes. Em Lyon, o cerco da metrópole é quase total.

Diante da revolta, a Comissão Europeia propôs a concessão de uma derrogação “parcial” às obrigações de retirada de terras impostas pela PAC (Política Agrícola Comum) para 2024 e está considerando um mecanismo que limite as importações de açúcar, ovos e aves da Ucrânia.

A política europeia é considerada complexa pelos agricultores e os rendimentos baixos. Além disso, a alta da inflação, a concorrência externa, a acumulação de normas e o aumento dos preços dos combustíveis têm prejudicado a categoria.

Outro ponto de atrito é a negociação de um acordo de livre comércio com os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai) que preocupa o setor agrícola e é recusado pela França.

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